Por Viriato Caetano Dias
“Há homens que se caracterizam nomeadamente por terem uma alta pressão sanguínea nas palavras e anemia nos actos.” Martin Luther King, prémio Nobel da Paz (1964).
Estava tudo aposto para reflectir em torno da governação electrónica no país, uma promessa que fiz aos leitores há bastante tempo. Acontece, porém, que para não expirar a validade da conserva, resolvi deixar de “jejum” alguns leitores que estavam – espero que ainda estejam – ansiosos pela temática. Não tem que se entristecerem por isso, até porque quanto mais demorado for a fermentação do vinho, melhor é a sua doçura. Para semana (espero não puder defraudar novamente aos leitores), cá estarei com o aludido tema.
Devo o plágio do título desta reflexão ao nosso humorista-mor, Nelson de Sousa, ou simplesmente, ‘Chaguatica N’dero’, que em língua nhungwe (tradução livre) quer dizer “pensamento cortado ou atrofiado”. Tal como os japoneses fazem, agradecerei ao “empréstimo” do título ao visado só no final desta reflexão! Mas não com o “Domo arigato”, e sim em minha própria língua (nhungwe).
Vamos ao que interessa, antes que essa “conserva” comece já a feder.
Yacub Sibindy é a marca de momento. Nunca em nenhum país do mundo, depois do terrorista Bin Lader, um político conseguiu em tão pouco tempo, estar no centro das atenções das pessoas, como o fez Yacub Sibindy e pelas piores razões. Nem mesmo Jesus Cristo ou Ala que vivem, duma ou doutra maneira, em nossos corações como símbolos de bondade e de fé, foram tão ignorados ante a perturbação mental – não quero acreditar que seja outra coisa – de quem até já se predispôs alguma vez para ser o presidente de todos os moçambicanos. O que seria de nós, moçambicanos, se Sibindy fosse o presidente do país? Nem quero calcular o inimaginável, senão seria eu a ter perturbações mentais e não o nosso político, que como relíquia (estátua) na oposição, até lhe fica bem o estilo.
Nem mesmo a corrupção óssea, a alta de preços dos combustíveis, a criminalidade, a fraude fiscal, a tuberculose e outras pandemias que se julgavam erradicadas e que estão a reaparecer, o burocratismo, o comodismo, a inércia, enfim, nada disto comoveu os principais órgãos de informação nacional, incluindo alguns analistas e estudiosos, que não se cansam de denunciar e de lutar contra estes males porque, Sibindy, a marca do momento, foi a conserva mais consumida. E não era para menos. As peripécias da “novela Sibindy” remetem a uma análise profunda sobre o conceito de Oposição. Afinal o que é Oposição (entenda-se Oposição como uma estrutura política)? Os politólogos saberão responder-me a esta questão? Até que ponto a nossa Oposição terá fôlego para desempenhar o seu papel? Razão terá quem alguma vez disse (estou a citar um político anónimo) que “em todas as democracias, o povo têm a Oposição que merece).
Pessoalmente não vejo nenhuma inconveniência política nem moral que impeça Sibindy de se filiar à Frelimo, até porque é de salutar que hajam no país políticos que apoiem (oxalá) o programa do Governo, afinal o objectivo de todos os moçambicanos é o mesmo: vencer a pobreza absoluta e apostar no progresso social, tecnológico, etc. Esta foi a causa porque se bateu Eduardo Mondlane e todos aqueles que no seu direito de cidadania fizeram, fazem e farão pelo país. Cada um deve fazer a sua parte para que o país seja cada vez melhor. Aquilo que queremos que o país seja no futuro depende daquilo que fazemos hoje. Não há tempo a perder.
Os políticos e os partidos estão livres de se acasalarem. O povo, desde que seja para o seu bem, está sempre disposto a receber o rebento dessa relação. O que a mim causou estranheza – creio que a plateia do social também, é a forma como este “matrimónio” foi feito. Em apenas um mês quanto durou esta novela eleitoral foi suficiente para vermos até que ponto andamos em matéria de personalidade. A troco de alguns vinténs – supostamente para pagar dívidas – o “titio” Sibindy (como lhe chamam a seiva da nação) foi capaz de vender o seu próprio cônscio. Não imagina, caro leitor, o que seria de Sibindy como presidente do país (porque como presidente do PIMO é aquilo que se vê), era capaz de vender o país para saldar à sua dívida pessoal, dívida esta de rajá e de outras especiarias, das suas muitas falidas lojas. Gente altamente ambiciosa e com “nicotina” no cérebro – porque o contrário, só podia ser uma doença senil – é capaz de prostituir-se mentalmente em troca de fosse o que fosse. Infelizmente, Sibindy não é o único insensato neste país, pululam de lixeira em lixeira, com intenções obscuras, semeando dor nas pessoas, em busca de apetites pessoais. Como ele, há tantos por ai.
Também não entendo como é que um partido que têm como programa de governação o combate a corrupção possa, no corredor do poder, promover este mal. Se é que um dos militantes do partido deu dinheiro a um certo político ambulante para fazer campanha a favor desse partido, num país onde a justiça funciona a 101 %, no mínimo, era caso para averiguações e, havendo provas de corrupção, a justiça tinha que ser chamada a agir. Assim não vamos longe, o combate a corrupção não pode sonegar para uns em detrimento de outros, é uma guerra que deve ser travada em todos os campos de batalha e de forma imparcial. E digo mais, se é que o tal empresário tem muita “massa”, acredito que sim, não era má ideia que fosse doar essa “massa” nos infantários da minha terra (Tete), que estão a braços com dificuldades financeiras de vária ordem. É um desafio que deixo ao presidente eleito, Armando Guebuza, o combate a corrupção e ao tráfico de influência devem ser travado com medidas duras e de forma exemplar.
Não faz muito tempo que um “chamuale” (amigo meu) observou no seu blogue o seguinte: mal o PIMO foi capaz (durante a sua existência como partido político) de organizar um conselho nacional, ou uma reunião de quadros, pode agora querer organizar uma celebração da vitória eleitoral de um partido que nem sequer é dele, porque o seu não concorreu por ter sido excluído juntamente com o MDM e outros! Seria ridículo ver Daviz Simango, Afonso Dhlakama nessa caravana! Custa-me acreditar que todo isto esteja a acontecer no meu país, vindo de uma casta de pessoas com “cinza na cabeça”, e porquê não, os nossos pilares! Quão pilares enferrujados e caducos. Será da tensão alta ou baixa que provavelmente estejam a padecer? Ainda que a Frelimo tenha ganho as eleições de Outubro (ainda não promulgadas pelo Conselho Constitucional), não acho que se deva gastar rios de dinheiro para festejar o que já era previsível que acontecesse (com a Oposição que temos ainda vamos muito longe de ver outro partido no poder), porquanto o país precisa de mais escolas mas com qualidade, de mais hospitais, de mais e mais emprego para os moçambicanos. Precisa de boas estradas. Precisa de um país melhor, onde não falte quem trabalhe a terra.
Caro leitor, a política é isto, um jogo de interesses. Os políticos são capazes de jurar de pés juntos servir o povo. Mentira. Na hora da verdade esquecem-se do povo. Em todo o lado, a política é um jogo complicado, só há santos no céu. O pior de tudo é que a nicotina do poder vicia, quando se está lá, ninguém quer sair. O poder é um vírus terrível. Apelo aos cientistas que ao descobrirem medicamentos contra a SIDA façam-no em relação a política.
Quanto ao Sibindy, se não quiser seguir às pegadas de Wehia Ripua, seu colega nos tempos em que a Oposição era mais oposição, deve abster-se de vender o seu cônscio. Em política, disse o actual Primeiro-ministro de Portugal, Eng.º José Sócrates, cada partido deve pedalar a sua própria bicicleta. Não faça lá isso, pá! O Sibindy pode muito bem conquistar o eleitorado se trabalhar a serio, é assim, aliás, com o trabalho que a Frelimo ganha as eleições, por bem ou por mal. A vitória, disse Samora Machel, prepara-se e conquista-se.
Uma vez chegado ao fim da presente reflexão (como o prometido é devido) quero aqui agradecer ao mestre do programa “O Riso não paga Impostos” pela inspiração mas, sobretudo, pelo “empréstimo” do título que a ele me atrelei. Não há melhor forma de agradecer a alguém que dizer em seu próprio idioma, praticamente o mesmo que o do “Chaguatica N´zero”, sendo ele de Manica e eu de Tete, com um: Zicomo kwambiri (muito obrigado).
PS: Esta semana recebi uma notícia da zona onde nasci e cresci. Morreu um dos filhos mais queridos do bairro e meu amigo pessoal, de nome Sérgio Vicente. Não revejo aquele bairro sem a sua alegria contagiante, sem o seu humor, sem aquele amigo com quem partilhei uma parte da minha juventude e não foi pouca. Aquele sportinguista nato mas não vicioso. O Bairro Francisco Manyanga na Cidade de Tete está de luto. Faz tempo que já lá não vou, mas junto-me àqueles que por ele choram. Em memória de Sérgio Vicente, nos próximos trinta dias, deixo de colocar nos meus artigos de reflexão o “PS”. Até breve amigo Sérgio.
Caro Viriato Dias
ResponderEliminarNa minha opinião, Yaqub Sibindy como qualquer cidadão é livre de se filiar à Frelimo ou outro partido. Filiar-se e falar em nome da Frelimo, é o que Sibindy devia fazer no mínimo para não continuar a escandalizar o nosso processo democrático.
O facto de Sibindy continuar a alegar que é um político da oposicão merece um estudo profundo. Sabemos, segundo a imprensa, sobre os seus apetites, mas serão só por causa desses? Não são também apetites dos que proclamaram o regresso do monopartidarismo desde anos atrás? Não encontraram neste actor uma maneira de desvirtuar o multipartidarismo?
Se Yaqub Sibindy insistindo que é um líder dum partido da oposicão é nomeado para qualquer coisa no governo da Frelimo, será para quê? Não será para imaginar-se que o governo da Frelimo não discrimina com base nas cores partidárias? Espero que eu não acerte quanto a isto.
Amigo Viriato, parabéns por este artigo. Vamos juntos continuar a proteger as mentes dos nossos concidadãos. É o nosso dever.
Amigo,
ResponderEliminarTambém concordo que Sibindy se filie a qualquer partido desde que ela queira. Aliás eu faço referência a esta passagem no artigo. O que não concordo é o facto deste casamento com a Frelimo ter sido feito a troca de esmola. Ai sim. É uma aberração. A isto chama-se prostituição mental. É grave para um ser humano de estatura de Sibindy que até já foi candidato à presidente da república.
Zicomo
Ele não é o único, sempre houve e há mais desse calibre, mas preocupa-me o protagonismo que o Sibiondy consegue ter, estou em crer que o homem é mesmo um "instrumento dos monopartidários".
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