Por Viriato Caetano Dias
“Quando o ouro entra pela porta das catedrais, sai a fé pelas janelas”, Citando Hernâni de Carvalho, jornalista português
À semelhança de “Mugabe, o meu Escolhido” que publiquei há duas semanas, a reflexão de hoje também promete ser polémica, tanto assim foi que alguns leitores, ofendidos com a minha dissertação decidiram, em bloco, cortar relações comigo. Uma sentença dura e injusta. Condoído, apresento as minhas condescendências aos lesados. Afinal somos todos pecadores.
Nunca pensei que a situação política do Zimbabwe (que eu acho normal e necessária, porque entendo que qualquer país precisa conhecer momentos baixos na vida para que, num futuro breve, possa trilhar no farol do progresso) fosse ser uma munição para essa “guerra” fútil. Que mais pode um “arcabouço” humano, como eu, pedir neste oceano de lágrimas se não a amizade dos amigos? Uma amizade bem formada pode ser, seguramente, um binóculo de ver longe, por isso, reforço aqui o apelo de Cristo: “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei” (João, 15,12).
E não pretendo, de maneira nenhuma, lançar outra polémica e/ou criar contendas desnecessárias com quem quer que seja, embora o meu ponto de vista nesta reflexão poderá causar, em certas pessoas / circunscrição pouco habituadas a separar o trigo do joio, um mau estar com consequências previsíveis. O meu inconformismo crónico recusa-se a calar perante os factos apresentados, ainda assim, lanço a sonda do diálogo à plateia do social, para um debate de ideias. Este é o objectivo das minhas reflexões, o diálogo!
Acontece, porém, que no lugar de se contruir e/ou reabilitar fábricas, industrias e outras infra-estruturas para o desenvolvimento sustentável do país, destruídas pela guerra de desestabilização, nalguns casos de libertação nacional, mas sobretudo, pela acção do homem (já basta dizer corrupção), uma vez que boa parte delas foram entregues à nomenclatura do regime no poder em compensação aos anos em que estiveram nas matas de Nachingueia, Madjedje, Chai, etc., no ofício da PAZ para os moçambicanos surgem, actualmente, nesses lugares, igrejas. Não se sabe muito bem donde é que elas vêm, quem são os seus donos, se estão registadas, se pagam ou não impostos, enfim, certo é que elas existem e não param de se multiplicar. Vivem como as sanguessugas, chupando o sangue dos crentes incautos. Em nome de Deus tudo fazem para esvaziar do bolso dos crentes o mísero salário mínimo nacional.
Muitas delas para lograrem credibilidade no seio dos crentes incautos mandam colocar dois ou três anúncios nos jornais de maior circulação no Bairro (o jornal de maior circulação nos bairros é a comunicação feita boca-a-boca) em como a tal igreja fora fundada em mil, cento e tal (a ideia é colocar sempre os anos mais longínquos para darem a entender que ela é antiquíssima), por um Grande (no dizer deles, Grande significa aquele que teve um “encontro de trabalho” com Jesus Cristo) Missionário, de preferência dos EUA! Falam em números de crentes muito aquém das expectativas para também darem a entender que a tal igreja (s) é “the best”, muito concorrida devido aos seus milagres religioso. Não falha, dizem eles: “faz cego ver, paralítico andar, cura doenças como a HIV/SIDA, etc.” Em menos de 15 a 30 dias tornam-se em verdadeiras “igrejas cogumelos”, com todo aquele aparato que se vê e crê. Não interessa se elas funcionam numa capoeira de galinhas, num curral de cabritos, num cabaré ou numa fábrica sem tecto, ou num quarto cedido por um senhorio para aumentar à sua renda mensal. A sua morfologia é composta, muita das vezes, por ex. reclusos, gatunos, violadores de mulheres e de crianças de reconhecido mérito e diploma-mor na praça do crime. As regras são iguais com às dos chapeiros. Se com os chapeiros à admissão é feita em função de actos de boçalismo, por outro lado, a ociosidade da pessoa é que mais ordena. De resto o hino das duas classes é o mesmo “que se lixe o povo”. Daí que a passagem de uma classe para a outra é automática, isto é, não requer requisitos nem estágios complexos, záz!
Não restam sombras de dúvidas que o negócio mais rentável e sustentável nosso país é a abertura de igrejas (não se excluem mesquitas, templos, capelas ou coisas do género). Que raio de proliferação? Desde que o seu fiscal morreu no misterioso acidente de Mbuzine em 1986, a sua regulamentação virou estrada sem semáforo. O país possui mais igrejas / mesquitas do que industrias para absorver o exército de desempregado que pululam pelas artérias das cidades. Coitado dos nossos licenciados, deita-se muito conhecimento sem qualquer perspectiva de emprego, porque as tecnologias do progresso foram substituidas pelas igrejas.
Queria eu que essas igrejas fossem vectores do progresso científico e religioso, que mobilizassem as pessoas, por exemplo, na produção da riqueza, na sensibilização para a contrução de uma sociedade livre de perigos ambientais, que fossem instituições de benevolência, mitigando a dor dos pobres e dos órfãos; se assim fosse, confesso, teriamos um país diferente, o galo até estaria a cantar de outra maneira. Mas como disse o historiador José Hermano Saraiva, “a bondade é um bem que nos dias de hoje perdeu a cotação.” O material substituiu o espiritual. Foi neste mundo que o homem virou mercadoria, e é neste mundo onde o homem continua a destruir-se a si mesmo. Faz-me lembrar “chicomba” (perdoem-me os fiscal da língua nyungué se escrevi mal o nome) é um animal que na falta de alimento come-se a si mesmo.
Mal menores têm o nosso país se compararmos com outros países, onde o nome do Omnisciente / Omnipotente é invocado pelos maus motivos: morte, destruição, expropriação, violação dos direitos humanos, enfim, um desfile de atrocidades. Para tudo o que se faz no mundo, o nome de Deus está na ponta da língua, como se alguma vez Deus fosse assassino ou tivesse outorgado os seus filhos a cometerem o mal. Seria ele um péssimo pai! Já não basta a maldade que fizeram ao Seu Filho quando, em praça pública e sem qualquer piedade, fizeram dEle (Jesus) a refeição do dia. Como posso eu me esquecer a recomendação da minha bússola literária, Arrone Fijamo: “há que ter cuidado com os homens, principalmente aqueles que te parecessem dedicar grandes amizades.”
Comecemos por Iraque, já lá vão 6 anos após a queda do regime ditatorial de Saddam Hussein que se morre feito cordeiro no matadouro, sem dó nem devoção. Os bombistas não perdoam a ninguém: adultos, velhos e crianças são tudo menos nada arrasado pelos ares. Matam com o corão nas mãos, como se este livro sagrado fosse nicotina para estimular as suas acções hediondas.
Abrindo um parentises, onde é que anda o Sr. Bush e os seus aliados que destruiram um país minimamente organizado? Deve estar no Texas, na sua terra natal, à espera de um Prémio-Nobel qualquer! A secretaria dos prémios deve estar por ai a rasurar ou a fabricar uma cláusula a ver se lhe dão um prémio. Será que o Sr. Mo Ibraimo se esqueceu dele? O seu comparsa tenta a sua sorte na presidência da União Europeia, para se juntar ao seu amigo das Lajes. E ainda há quem diga que Mugabe é dos piores!
A Palestina que desde a sua fundação foi sempre palco de guerras. Foi lá que mataram Cristo. A paz naquele sítio nunca! O Afeganistão não foge à regra, os interesses de países imperialistas, os tais fiscais dos Direitos Humanos não param de regar os corpos do povo afegão com bombas. Quão cubais em teste das armas de destruição maciça! Nem as mesquitas são poupadas. Por outro lado estão os talibãs que se dizem radicais do Islão e lutam por uma voz no clube dos países mais ricos do mundo. É uma questão de dualidade de critérios: dois pesos e duas medidas. “Se eles (o Ocidente) podem ter armas nucleares porque é que nós não teríamos”? É complicado este mundo! Há que dar razão a Carlos Fino, a violência só tem gerado mais violência. Cada uma das partes parece sempre pensar que tem a arma mais poderosa, que pode causar o maior dano e assim impor a sua vontade.
Nos EUA os casos de pedofilia praticados pelos padres católitos vão aumentam dia após dia. Os padres católicos usam o nome de Deus para se prostituirem. Os seus apetites sexuais são materializados nas crianças, coitadas, estas “presas humanas” só conseguem denunciar já grandes. A batina eclesiástica esconde muitas coisas, esconde fundamentalmente um esqueleto cheio de pecados. O Vaticano mesmo sabendo desses cometimentos, limita-se a pedir desculpas e, nalguns casos, indeminiza às vítimas. É este mesmo Vaticano que nada pode fazer quando Bush e os seus aliados decidiram, em bloco, atacar o Iraque. Já dissemos que este quarteto ainda espera por prémios que não deverá tardar por muito tempo. Alguém pergunta pela ONU? A história do genocídio do Ruanda, de Timor (só para citar) aconteceu nas barbas das Nações Unidas sem que este organismo da paz fizesse algo quando a ferida ainda estava fresca. Os interesses determinam o curso da política, bem como a sorte de alguns países “sacatepwés”, que em calão na língua nyungué quer dizer “sem valor”. Haverá um Estado sem valor?
Agora é a vez do Brasil! De lá chegam-nos a história da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que é recordista em termos de processos nos comarcas (tribunais) do Brasil e não só. Não são poucos os crentes que se queixam à justiça dos países onde a igreja é acausada de burla, coação e prostituição religiosa. O seu proprietário, segundo as fontes brasileiras, é actualmente um dos homens mais ricos do Brasil. O Sr. Macedo (Bispo Macedo como é carinhosamente tratado) passeia a sua classe ante as favelas do Rio de Janeiro, do Mafalala, só para citar, a “arder” de fome e fedo. Onde está a caridade do Vaticano e da IURD para acabar com às fomes no Brasil, em Moçambique e no mundo? Se os dízimos não existissem creio que o mundo não teria mais do que meia dúzia de igrejas / mesquitas.
Em Portugal um padre de Covas do Barroso é acusado de Tráfico e uso ilegal de armas de fogo, foi absorvido depois de 2 dias de intensas interrogações! Esta notícia deixou-me arrepiadíssimo e obrigou-me a colocar dois dedos na testa, se realmente vale a pena frequentar as igrejas ou não? Se um padre é traficante de armas, qual é o ensinamento que dá aos seus crentes? Esta a dizer, indirectamente, que todos nós temos o direito de traficar arma, o resto que se dane. Que se lixe Deus! Bons tempos fora os meus em que os padres desempenhavam com estima e dedicarão o seu sacerdócio, sem mácula. Eram tempos difíceis aqueles da guerra, tempos férteis para a prática destes males depravados, mas sobre eles pesava a responsabilidade, o dever de um sacerdote e o valor de ser um bom educador. Saudades tuas padre Cirilo, no seu eterno sono! Um abraço ao Padre Emílio, agora na Diocese de Quelimane, que me ensinou que uma mão suja não se cortar, mas si lavar, e a rapaziada de Napipine, em Nampula, a descobrir o caminho da escola. Fica aqui a minha homenagem a este grande homem ao serviço de um país. Também há gente boa neste mundo! Que o diga o povo de Nampula.
Os exemplos não param por aqui, eu é que me fico por aqui, reconhecendo que para tudo na vida há sempre uma excepção.
PS1: Foi com profunda tristeza que recebi a notícia da morte do Jornalista da Rádio Moçambique (RM) – Tete, Alberto Camacho perecido a 22/10/09, vítima de doença. É, sem dúvidas, um vazio que deixa para a RM e para os seus ouvintes, como eu, que tinha em Alberto Camacho um jornalista exímio. Paz à sua alma. Até já, Camacho!
PS2: Espero publicar em dose dupla, ainda esta semana, uma reflexão sobre a hipotética escolha do Engº Venâncio Mondlane para o cargo de Secretário-Geral do partido Democrático de Moçambique (MDM).
PS3: Obrigado a todos que me tem enviado informações diversas sobre a actualidade moçambicana e internacional, assim como pedidos para a abordagem destes e de outros temas... Estamos juntos, sempre!
Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento
ResponderEliminarMachado de Assis
www.ateumilitante.blogspot.com
In go(l)d we trust.
ResponderEliminarVi, ainda que de raspão o teu blogue. Constatei que o Hermogenes é um ateu. Gostaria de, numa próxima oportunidade, falarmos deste tema: Deus. Qual é a sua percepção? A proliferação de igrejas / mesquitas, etc.
ResponderEliminarUm abraço
Ora bem Viriato,
ResponderEliminarBelas escritas...estas de parabens, excepto quando tocas do Mugabe.
*Eles trouxeram as biblias e trocaram-nas com as nossas terras...
No fim Ficamos com a fome e eles com a riqueza...
M
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ResponderEliminarNuma entrevista do Edil Macedo que passou pela Miramar...
ResponderEliminar"Ele diz que odeia a religiao"
Interessante!
M
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ResponderEliminarMiquite,
ResponderEliminarMuito obrigado. De todas as formas continuo a defender Mugabe como sendo um grande líder africano, ainda que entre em choque com os meus leitores, como é o seu caso. Vai me perdoar mesmo.
Quanto ao Macedo, risos.....
Um abraço
Viriato Dias,adoraria conversar/discutir o tema Deus. vou escrever algo sobre isso.
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