Por Pedro Nacua
SOUBE da existência de Imamo Haje nos princípios da década 90, quando a Rádio Moçambique tocou uma bonita música que à primeira pareceu-me estrangeira, com uma forte carga árabe. Mas interessava-me a contradição existente entre a sua aparência e o facto de ser cantada em língua que entendo, Emakwa. Logo a seguir o emissor da província onde eu então vivia passou a rodar constantemente a mesma e outras músicas do mesmo autor, que vim a saber que afinal se tratava de um pembametugense, na província de Cabo Delgado.
Contagiei a muita gente a gostar da Ethunia, Yarabe, das mangas boas de Murrébuè (Changa), etc. Acabei conhecendo-o, pela primeira vez, por ter sido convidado, por gente do meu círculo de amigos, a actuar na piscina do Ferroviário de Nampula. Fic]amos colectivamente fãs do artista.
Vivia em Maputo, onde entre o sucesso e as sempre madrastas dificuldades de vida foi-se aguentando, até que um dia se lembrou do provérbio macua “Olavilavi Unkeliha Ouani” (a malandrice faz lembrar a origem) ou, falando positivamente, “O bom filho, sempre regressa a casa”. E veio com umas boas iniciativas. Andou de pessoa em pessoa e de jornal em jornal a vender o seu projecto de fazer uma escola de música. De novo foram os órgãos de comunicação social que fizeram eco do que pretendia fazer. Teve as ajudas que teve, porque se tratava de ideias que falam de progresso.
No sábado passado decidiu agir contra os seus amigos. Contra a sua história, digamos, a comunicação social. Subiu as escadas do emissor provincial da Rádio Moçambique, em Pemba, foi até aos estúdios, que ficam no segundo andar de um prédio cujas escadas são difíceis de galgar. Quer dizer, fez muito esforço para lá chegar. Conseguiu passar pelo guarda policial que fica à entrada. Conseguiu perceber que estava a entrar em terreno alheio, dado que em cada porta está escrito algo a sugerir que não se trata de uma barraca. Na última porta viu escrito “Silêncio”, um apelo tão forte quanta necessidade de paz se precisa no estúdio.
Chegou. Imamo Haje, o nosso amigo e foi ter com um dos seus amigos, o Tomás Moisés Anatamba, um locutor que mete medo pelo factor de ser discretíssimo, que não afasta nem um mosquito, que não fala em voz alta com ninguém, que muitas pessoas não o conhecem, porque só estúdio e casa. Foi agredi-lo fisicamente! Sinceramente!
Quando se procuram as razões, Imamo Haje diz que acabava de escutar na Rádio Moçambique a sua música, Yarabe. É problema? Mais uma pergunta, responde que era porque foi tocada logo a seguir ao espaço de antena, concedido aos partidos políticos e seus mandatários, por lei. É problema? Mais à frente acrescenta que era porque o último a falar era a Renamo. É problema? Querendo mais uma razão, diz que lhe pareceu que estava a ser associado àquele Partido. Imamo!...
Então fica assim a justificação de um homem que já foi amigo da comunicação social: fui agredir porque estando ele em serviço e cumprindo com o seu dever, pôs a tocar a minha música logo a seguir ao tempo de antena da Renamo…
Estando em tempo de cada um procurar onde comer nos próximos cinco anos, arranjou mais esta: é porque eu sou filho da Frelimo, não gosto que me associem à Renamo. Imamo!..
Está a dizer que desde 1991 que a sua música é tocada pela Rádio Moçambique, em todo o país, só no dia 17 de Outubro de 2009 é que ficou mais próxima da intervenção, na mesma rádio, de um político ou de um partido da oposição, da Renamo muito precisamente. Faltava dizer que se trata do dia da morte de Matsangaíssa! Se não é verdade, porquê, então, só naquele dia e em tempo de campanha?
Imamo é mais da Frelimo do que Anatamba, eis a questão. E se é por ser filho da Frelimo, coisa que muitas vezes é desnecessário gritar, impõe-se a seguinte questão: é assim que agem os filhos da Frelimo? Ou é assim que agem os filhos que não são da Frelimo…
Têm razão os que levaram o caso às instâncias judiciais, vale a pena perguntar bem a esse antigo amigo da comunicação social. Mas que é triste, não restam dúvidas!
PEDRO NACUO
Fonte: Jornal Notícias
Este é um grande artigo. Gostaria de obter o contacto de Nacuo para o felicitar. Gostei muito sinceramente.
ResponderEliminarAbraços
Mano Viriato
ResponderEliminarNão conheco o contacto do grande homem.