Espinhos da Micaia
por Fernando Lima
Nos dias tensos que vivemos, no país político está na ordem do dia o interesse nacional.
E como a hora, antes da hora do voto é a hora dos políticos, temos quase tantas concepções de interesse nacional quantas formações se apre¬sentam a disputar as preferências dos candidatos a molhar o dedo no dia D.
Por exclusão de partes e na transversal, paz e progresso, ou desenvolvimento são daqueles chavões feitos que fazem o pleno, até mesmo junto do isolado funcionário da administração de Palma, no intervalo dos seus relatórios emocionais sobre o conflito homem/animal.
Democracia já fica mais controverso. Boa governação dá direito a guia de marcha para a universidade mais próxima. A democracia do camarada Matsinhe é uma, a do paternal Afonso é outra. Mesmo o jovem Daviz encontra espaço para introduzir a sua visão. O que me leva ao cerne da interrogação de qual a democracia que serve o interesse nacional.
Será a democracia da “vitória esmagadora” do partido dominante? A vitória esmagadora contempla maiorias de não menos de 2/3, capazes de abrirem a Constituição a apetites monopartidários, pesem as excepções abertas aos protestos de “jornais independentes da Frelimo”.
A vitória esmagadora não pode induzir o esmagar de oposições, um convite ao nó na jugular da expressão das diferenças. Em suma, um convite à exclusão dos que não usam o cartão “abre-te Sésamo” de que é feito o nosso quotidiano.
Claro que é difícil ver claro, quando a lógica futebolística domina o léxico eleitoral, e ninguém joga para o empate ou para perder por poucos, quando o lema tem sido o banquete quase orgia na mesa do voto.
O interesse nacional da oposição, logicamente, passa pelo reforço dos que fazem o contraponto do poder, mesmo que no registo oficial se fale em vitórias das simbologias aviárias.
Esperando que as nuvens que pairam sobre o processo eleitoral sejam apenas de contingência, progresso e desenvolvimento constroem-se com disponibilidades. E as disponibilidades em tempo de crise devem ser medidas conjunturalmente. A miragem da “vitória esmagadora” está disposta a confrontar-se com a perda do estatuto de “filho querido” dos fundos externos no continente africano?
Apesar das correntes da “vitória esmagadora” terem sempre à mão a experiência dos tigres asiáticos para denegarem democracia e participação, os contratos sociais amputados de elementos fundamentais são sobretudo contratos a prazo.
Os camaradas mais sofisticados, os que traçam cenários e estratégias olhando para o mundo que nos rodeia, sabem exactamente que as “vitórias retumbantes”, quando pecam por excesso, resultam em retumbantes embaraços, como a aritmética dos 2/3 para o ANC na África do Sul e os empanturrados 80% arrecadados pelo MPLA em Angola. Por isso mesmo se entendam as mensagens subliminares que têm sido enviadas nos últimos meses sobre os cenários decorrentes dos 2/3, antes da versão pós conclave do Comité Central sugerindo temores de uma potencial colheita benigna para os lados da oposição.
Independentemente das cogitações e contas que todos estarão a fazer nesta altura, o interesse nacional, em democracia, passa mesmo pelo reconhecimento da diferença e da participação. Mesmo provocatório, estou certo que o sr. Jorge Rebelo acha muito mais piada aos miúdos irreverentes do Parlamento Juvenil que à ala fossilizada dos teleguiados que, nas trincheiras do seu partido, se demitiram de pensar que têm direito a ser jovens.
O país, pode ser um jovem adulto, mas a democracia multipartidária é claramente adolescente. Para avançarmos com solidez precisamos de continuar a coleccionar aqueles números que são tão caros à Dra. Luisa Diogo mas também termos um Parlamento mais vibrante e sofisticado, uma sociedade civil feita de alternativas e grupos de interesses que sejam mesmo de interesses. O interesse nacional não se faz de uma só cor, uma só canção, só peixe ou só carne.
O interesse nacional nem sequer se reduz aos pontos de contacto entre Matsinhe, Afonso e Daviz.
E quando se trata de esmagar, esmagar mesmo deve a funda virada contra a ignorância e a pobreza de espírito.
Fonte: SAVANA
por Fernando Lima
Nos dias tensos que vivemos, no país político está na ordem do dia o interesse nacional.
E como a hora, antes da hora do voto é a hora dos políticos, temos quase tantas concepções de interesse nacional quantas formações se apre¬sentam a disputar as preferências dos candidatos a molhar o dedo no dia D.
Por exclusão de partes e na transversal, paz e progresso, ou desenvolvimento são daqueles chavões feitos que fazem o pleno, até mesmo junto do isolado funcionário da administração de Palma, no intervalo dos seus relatórios emocionais sobre o conflito homem/animal.
Democracia já fica mais controverso. Boa governação dá direito a guia de marcha para a universidade mais próxima. A democracia do camarada Matsinhe é uma, a do paternal Afonso é outra. Mesmo o jovem Daviz encontra espaço para introduzir a sua visão. O que me leva ao cerne da interrogação de qual a democracia que serve o interesse nacional.
Será a democracia da “vitória esmagadora” do partido dominante? A vitória esmagadora contempla maiorias de não menos de 2/3, capazes de abrirem a Constituição a apetites monopartidários, pesem as excepções abertas aos protestos de “jornais independentes da Frelimo”.
A vitória esmagadora não pode induzir o esmagar de oposições, um convite ao nó na jugular da expressão das diferenças. Em suma, um convite à exclusão dos que não usam o cartão “abre-te Sésamo” de que é feito o nosso quotidiano.
Claro que é difícil ver claro, quando a lógica futebolística domina o léxico eleitoral, e ninguém joga para o empate ou para perder por poucos, quando o lema tem sido o banquete quase orgia na mesa do voto.
O interesse nacional da oposição, logicamente, passa pelo reforço dos que fazem o contraponto do poder, mesmo que no registo oficial se fale em vitórias das simbologias aviárias.
Esperando que as nuvens que pairam sobre o processo eleitoral sejam apenas de contingência, progresso e desenvolvimento constroem-se com disponibilidades. E as disponibilidades em tempo de crise devem ser medidas conjunturalmente. A miragem da “vitória esmagadora” está disposta a confrontar-se com a perda do estatuto de “filho querido” dos fundos externos no continente africano?
Apesar das correntes da “vitória esmagadora” terem sempre à mão a experiência dos tigres asiáticos para denegarem democracia e participação, os contratos sociais amputados de elementos fundamentais são sobretudo contratos a prazo.
Os camaradas mais sofisticados, os que traçam cenários e estratégias olhando para o mundo que nos rodeia, sabem exactamente que as “vitórias retumbantes”, quando pecam por excesso, resultam em retumbantes embaraços, como a aritmética dos 2/3 para o ANC na África do Sul e os empanturrados 80% arrecadados pelo MPLA em Angola. Por isso mesmo se entendam as mensagens subliminares que têm sido enviadas nos últimos meses sobre os cenários decorrentes dos 2/3, antes da versão pós conclave do Comité Central sugerindo temores de uma potencial colheita benigna para os lados da oposição.
Independentemente das cogitações e contas que todos estarão a fazer nesta altura, o interesse nacional, em democracia, passa mesmo pelo reconhecimento da diferença e da participação. Mesmo provocatório, estou certo que o sr. Jorge Rebelo acha muito mais piada aos miúdos irreverentes do Parlamento Juvenil que à ala fossilizada dos teleguiados que, nas trincheiras do seu partido, se demitiram de pensar que têm direito a ser jovens.
O país, pode ser um jovem adulto, mas a democracia multipartidária é claramente adolescente. Para avançarmos com solidez precisamos de continuar a coleccionar aqueles números que são tão caros à Dra. Luisa Diogo mas também termos um Parlamento mais vibrante e sofisticado, uma sociedade civil feita de alternativas e grupos de interesses que sejam mesmo de interesses. O interesse nacional não se faz de uma só cor, uma só canção, só peixe ou só carne.
O interesse nacional nem sequer se reduz aos pontos de contacto entre Matsinhe, Afonso e Daviz.
E quando se trata de esmagar, esmagar mesmo deve a funda virada contra a ignorância e a pobreza de espírito.
Fonte: SAVANA
É sempre interessante ler os artigos de Fernando Lima. Tem uma dose de interesse e projecção da vida política nacional. Tenho pena que o Sistema não tenha ou não seja capaz de observar os sinais de perigo eminente e iminente.
ResponderEliminarUm abraço
Gosto da maneira como Fernando Lima é frontal.
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