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quinta-feira, agosto 13, 2009

Malawi: O velho Reino dos Lagos e Montanhas

Por: Zacarias Abdula, em Lisboa

O 1º passo de cooperação económica com o Malawi foi dado por Moçambique em 1979

Na governação do Presidente Samora Machel teria já havido espírito de cooperação económica com o governo do Malawi, do Presidente Hon. Dr. Hasting Kamuzu Banda.

Segue-se excertos da minha viagem entre 15 e 22 de Dezembro de 1979 à Zomba, capital política, Blantyre, capital económica, e Lilongwe, a nova e actual capital do Malawi, inserida no primeiro encontro de empresários de Moçambique e do Malawi. "Seguido à lupa pelo Presidente HK Banda, segundo me confidenciou a Lady Kadzimira em Zomba, em nyanja/ chissena (na altura Assistente pessoal do Dr Hasting Kamuzu Banda)".

O chefe da delegação foi Pacheco Faria, na altura DG da Enacomo, também Merali, DC da FACIM, Tricamgy, DC da Mabor, e um economista representante do MCE, e eu claro, Zacarias Abdula, Director Geral da Celmoque.

Segundo se avançou na altura, esta viagem compreendeu empresários representantes do Comércio e Indústria de Moçambique e estava sendo acompanhada de perto pelo único ministro civil do Bureau Político da Frelimo, Dr. Mário da Graça Machungo, mais tarde Ministro do Plano, dirigente da Zambézia, Primeiro Ministro, actualmente PCA do Milleniun BIM.

Numa respeitosa visita de cortesia a Zomba, capital política do Malawi na altura, (em que nos acompanhou a Zomba, o Dr Alec Banda, CEO do holding de empresas pertencentes ao Estado e aos altos quadros do Congress Party), fomos atendidos pela Mrs. Mama Kadzimira, Assistente política pessoal do Presidente Banda e Mrs Kaluluma, Secretária de Educação e "pivot" do Governo, visto que o "Doctor Banda" estava incomodado com "gripe", disse ela, e mais...que o "Doctor BANDA" seguia "à lupa" esta primeira visita económica de boas intenções dos irmãos africanos de Moçambique, segundo me confidenciou à parte, a Lady Kadzimira em nyanja/ chissena, (porque o Dr. Alec apresentava-me sempre como o "irmão de Mutarara e que entendia nyanja").

Disse também num tom de "desabafo" e algum "secretismo", que "Machel obrigou Robert da ZANLA a assinar Lancaster House, mas ainda faltam mais coisas por resolver, PARA VOLTARMOS A SER irmãos africanos".

Não me apercebi bem do contexto na altura, mas "estava patente que talvez estivesse a referir a guerra civil movida pelo MNR-Renamo no interior de Moçambique, e que estava a alastrar junto a fronteira oriental do Malawi/Moçambique".

Decorriam os últimos dias do Acordo de Paz para Rhodesia – Acordos de Lancaster House, conversações entre o mediador da potência colonial e Secretário de Estado Britânico Lord Carrington, coadjuvado pelo Lord Soames, que viria a ser o último representante da Corôa Britânica e Governador Geral versus dum lado o Governo não reconhecido internacionalmente de Zimbabwe-Rhodesia-Presidente Gumendi, Primeiro Ministro Abel Muzorewa, e representante da minoria Ian Smith, versus Robert Mugabe-ZANLA, Dr Joshua Nkomo-ZAPU, representantes de movimentos de guerrilha respectivamente, sobre a modalidade de cessar fogo, e marcação de eleições sem guerra, que se efectivaram a 18 de Abril 1980 (independence day of Zimbabwe), tendo saído vencedor a ZANLA de Robert Mugabe. A Reforma Agrária (política da terra) foi excluída, e ficando sem solução, post-agreed para os 20 anos seguintes.

Deu no que deu, no País mais rico da África Negra em 1980, excluindo a RAS, o Zimbabwe tornou-se no País pária, e mais pobre do Mundo, nos 20 anos seguintes.

E dois dias depois, a confirmar "as dicas" da Mama Kadzimira, recebemos já em Blantyre, em cortesia a visita do Mayor da cidade.

Confidenciou-nos numa atitude de "vós irmãos africanos", que acabara de chegar de Lilongue, nova capital, e que numa reunião do Congress Party Leaders, o "doctor Banda" tinha-lhes dado a boa notícia de que o Acordo de Paz de Zimbabwe-Rhodesia, Acordos de Lancaster House, seria assinado "AMANHÃ", "e que eu como africano, fico satisfeito que outro africano, "Presidente Machel seja preponderante na solução", mas "pena que tenha deixado coisas por resolver, african things, coisas de africanos". Mais uma vez a referir-se da desagregação económica de Moçambique devido a guerra civil entre moçambicanos.

E sub-reptíciamente, falou-nos que o socialismo não era aconselhável para os africanos, "porque desprezava os chefes tradicionais", como seu pai, que era Régulo e Chefe tradicional perto de Nsanje, junto a fronteira de Moçambique, perto de Mutarara, donde sou natural, já que não confraternizava com os outros régulos africanos da fronteira de Moçambique, e blá, blá.

E disse mais: Vocês africanos de Moçambique tinham que estudar bem esses fenómenos e, logo a seguir, numa atitude de "saca-cartolas" de afirmação, "foi a minha tese de Mestrado em Oxford-UK, faz 6 anos" – a defesa consuetudinária do africanismo. Voltamo-nos a encontrar em 21 de Dezembro, no cocktail oferecido pelo Dr Alec Banda, representante dos empresários de Malawi aos empresários de Moçambique.

O Mayor fechou o cocktail afirmando já "satisfeito": Feliz Natal de 1979, e que auspiciava um bom ano de 1980, que "os africanos devem continuar a utilizar a cabeça para pensar e não andar só nas CABEÇADAS".

No dia 22 de Dezembro regressei a Beira, num Natal triste, em que escasseava produtos de primeira necessidade, em que o Presidente Machel falou aos moçambicanos sobre a derrota infligida pelo povo zimbabweano e moçambicano ao racista Smith, iniciando semanas seguintes a "Ofensiva Organizacional", (porque era insustentável a situação de "bichas" para aquisição de comida"), que foi de parcos resultados....

O Presidente Machel deu a sua quota parte de africano, na solução do Zimbabwe, exemplo de bom acordo de paz na altura, mas que hoje "à lupa", faltou "o preto no branco" da distribuição da terra, e daí o desastre actual!!!.

Hoje, quase 30 anos depois, revejo-me e penso que o Mayor de Blantyre, TINHA RAZÃO!!!! A CABEÇA É PARA PENSAR!!!

(Excertos do livro a publicar...)

O AUTARCA – 12.08.2009

Nota: Publico-o com a autorizacão do autor. O artigo foi também publicado no Moçambique para todos


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