“Chamo-me William Kamkwamba e tenho 21 anos de idade. Vivo na aldeia de Mastala, que pertence ao distrito de Kasungu, a cerca de duas horas e meia de carro de Lilongwe, a capital do meu país, o Malawi. A minha língua nativa é o Chichewa. A língua oficial do país é o inglês. Tenho uma boa compreensão desta língua, consigo falar e escrever bastante bem.
Lá em casa somos muitos: o meu pai (Agnes), a minha mãe (Trywell) e quatro das minhas seis irmãs. Sou o segundo de sete filhos. A minha família, como muitas outras no Malawi e em África, é muito pobre. Na nossa aldeia não há electricidade. À noite as velas são as únicas fontes de luz na minha aldeia. Mas elas são muito caras, deitam muito fumo e muitas cheiram mal. Para comprá-las temos que andar mais de oito quilómetros.
Quando acabei a escola primária, passei para o ensino secundário. Mas depois, ao fim de dois semestres, fui obrigado a desistir dos estudos porque a minha família não tinha dinheiro pagá-la. Fiquei a ajudar os meus pais em casa. Estive cinco anos sem ir à escola.
Nessa altura decidi que queria aprender o mais possível. A leitura é a melhor forma de aprender. Por isso, tentei ler tudo o que consegui apanhar. Uma organização chamada Malawian Teacher Training Activity (MTTA), com o apoio da USAID, contribuiu com uma grande quantidade de livros para a biblioteca da escola primária perto de minha casa. Consegui então ler muitos livros. Um deles foi “Using Energy” (Usando Energia), um livro de exercícios do ensino primário que explica como é que resulta a energia.
O livro tinha alguns esquemas de construção de moinhos de vento. Então decidi construir eu próprio um moinho de vento para fornecer energia à minha família.
Agora, e como sempre, o meu grande problema era a falta de dinheiro para comprar as diferentes partes que constituem um moinho. Encontrei materiais que os agricultores haviam rejeitado e comprei algumas coisas com o dinheiro que consegui juntar com pequenos trabalhos: 3,45 USD por dois suportes, 3,45 USD por um dínamo de bicicleta, 2,75 USD por uma correia, e 5,5 USD por um quadro de bicicleta. Foi assim que construi o meu primeiro moinho. Tinha 14 anos. Com este moinho consegui ligar algumas lâmpadas e dar luz à minha família.
Depois, decidi aumentar o moinho e fazer muitas modificações: aumentei as pás de três para quatro providenciando assim mais potência à estrutura que ficou com 12 metros. Agora o moinho abastece de electricidade três divisões da casa e a nossa a varanda. Esta energia faz ainda funcionar dois rádios e carrega vários telemóveis dos vizinhos. Liguei ainda uma bateria de carro para usar nos dias em que não há vento.
Em Novembro de 2006, o Dr. Hartford Mchazime, director da MTTA, ao visitar a biblioteca tomou conhecimento da minha invenção. Quis vir visitar-me para se inteirar do modo como eu havia construído o moinho. Quando chegou fez-me muitas perguntas sobre o moinho. Expliquei-lhe todas as etapas da construção.
Passado alguns dias o Dr. Mchazime trouxe consigo vários jornalistas para verem o moinho, entre eles Sangwani Mwafulirwa, repórter do “The Daily Times”, um dos maiores jornais do país.
A publicidade acerca do meu moinho foi grande e Dr. Mchazime não teve dificuldade em reunir dinheiro suficiente para eu voltar a estudar. E assim voltei para a escola secundária que distava cerca de uma hora da minha casa, no caminho para Lilongwe.
Sem me conhecer, Soyapi Mumba, um engenheiro de computadores de Lilongwe, mostrou ao colega Mike McKay o artigo saído no jornal. Mike colocou-o imediatamente no seu blogue, o Hactivate. Descobri ainda que várias pessoas escreverem também acerca da minha história nos seus blogues.
Fui depois contactado para falar e contar a minha experiência na Conferência de TED, onde conheci muita gente.
Há dois anos, pela primeira vez na vida, comecei a trabalhar com computadores. No motor de busca Google fiz uma pesquisa escrevendo a palavra “moinho” e “energia solar”. É incrível descobrir as entradas que existem sobre estes dois assuntos! Os meus amigos ensinaram-me a criar um endereço de email e já estou no Gmail. Agora, quando tenho acesso a um computador, já sei enviar e receber correio electrónico.”
Agora recebi uma bolsa para estudar na ALA em Joanesburgo e com meu amigo Bryan Mealer vou lançar um livro que se chama “O rapaz captou o vento” (tradução livre).
Fonte: @Verdade
Lá em casa somos muitos: o meu pai (Agnes), a minha mãe (Trywell) e quatro das minhas seis irmãs. Sou o segundo de sete filhos. A minha família, como muitas outras no Malawi e em África, é muito pobre. Na nossa aldeia não há electricidade. À noite as velas são as únicas fontes de luz na minha aldeia. Mas elas são muito caras, deitam muito fumo e muitas cheiram mal. Para comprá-las temos que andar mais de oito quilómetros.
Quando acabei a escola primária, passei para o ensino secundário. Mas depois, ao fim de dois semestres, fui obrigado a desistir dos estudos porque a minha família não tinha dinheiro pagá-la. Fiquei a ajudar os meus pais em casa. Estive cinco anos sem ir à escola.
Nessa altura decidi que queria aprender o mais possível. A leitura é a melhor forma de aprender. Por isso, tentei ler tudo o que consegui apanhar. Uma organização chamada Malawian Teacher Training Activity (MTTA), com o apoio da USAID, contribuiu com uma grande quantidade de livros para a biblioteca da escola primária perto de minha casa. Consegui então ler muitos livros. Um deles foi “Using Energy” (Usando Energia), um livro de exercícios do ensino primário que explica como é que resulta a energia.
O livro tinha alguns esquemas de construção de moinhos de vento. Então decidi construir eu próprio um moinho de vento para fornecer energia à minha família.
Agora, e como sempre, o meu grande problema era a falta de dinheiro para comprar as diferentes partes que constituem um moinho. Encontrei materiais que os agricultores haviam rejeitado e comprei algumas coisas com o dinheiro que consegui juntar com pequenos trabalhos: 3,45 USD por dois suportes, 3,45 USD por um dínamo de bicicleta, 2,75 USD por uma correia, e 5,5 USD por um quadro de bicicleta. Foi assim que construi o meu primeiro moinho. Tinha 14 anos. Com este moinho consegui ligar algumas lâmpadas e dar luz à minha família.
Depois, decidi aumentar o moinho e fazer muitas modificações: aumentei as pás de três para quatro providenciando assim mais potência à estrutura que ficou com 12 metros. Agora o moinho abastece de electricidade três divisões da casa e a nossa a varanda. Esta energia faz ainda funcionar dois rádios e carrega vários telemóveis dos vizinhos. Liguei ainda uma bateria de carro para usar nos dias em que não há vento.
Em Novembro de 2006, o Dr. Hartford Mchazime, director da MTTA, ao visitar a biblioteca tomou conhecimento da minha invenção. Quis vir visitar-me para se inteirar do modo como eu havia construído o moinho. Quando chegou fez-me muitas perguntas sobre o moinho. Expliquei-lhe todas as etapas da construção.
Passado alguns dias o Dr. Mchazime trouxe consigo vários jornalistas para verem o moinho, entre eles Sangwani Mwafulirwa, repórter do “The Daily Times”, um dos maiores jornais do país.
A publicidade acerca do meu moinho foi grande e Dr. Mchazime não teve dificuldade em reunir dinheiro suficiente para eu voltar a estudar. E assim voltei para a escola secundária que distava cerca de uma hora da minha casa, no caminho para Lilongwe.
Sem me conhecer, Soyapi Mumba, um engenheiro de computadores de Lilongwe, mostrou ao colega Mike McKay o artigo saído no jornal. Mike colocou-o imediatamente no seu blogue, o Hactivate. Descobri ainda que várias pessoas escreverem também acerca da minha história nos seus blogues.
Fui depois contactado para falar e contar a minha experiência na Conferência de TED, onde conheci muita gente.
Há dois anos, pela primeira vez na vida, comecei a trabalhar com computadores. No motor de busca Google fiz uma pesquisa escrevendo a palavra “moinho” e “energia solar”. É incrível descobrir as entradas que existem sobre estes dois assuntos! Os meus amigos ensinaram-me a criar um endereço de email e já estou no Gmail. Agora, quando tenho acesso a um computador, já sei enviar e receber correio electrónico.”
Agora recebi uma bolsa para estudar na ALA em Joanesburgo e com meu amigo Bryan Mealer vou lançar um livro que se chama “O rapaz captou o vento” (tradução livre).
Fonte: @Verdade
Linda e comovente historia... Um miudo que tem vontade de aprender. Espero que tenha um desfecho feliz.
ResponderEliminarMaria Helena
Sem dúvidas temos aqui um menino com vontade de aprender. Contudo, este não é um caso singular, no fundo, a maioria dos jovens e sobretudo, oriundos de famílias pobres têm muita vontade para aprender e não só ler e escrever, mas aquilo que lhes dê uma profissão. O que é necessário e julgo não estarmos ainda a entender, é incentivo ou estimulação, investindo-se mais em escolas de artes e ofícios, laboratórios nas escolas básicas e secundárias. Um exemplo concreto que tenho dado quanto os efeitos de um investido numa escola técnica é Carapira, antiga Escola de Artes e Ofícios e actualmente uma Escola Industrial.
ResponderEliminarEnfim, vamos pensar nisto!
Havia um jovem em Mahlazine, Maputo, que fez um carro. Sim, fez um carro, na garragem de casa. Foi denunciado e foi preso. Just like that. É verdade que foi há uns 8 anos, mas confesso q fiquei traumatizada.
ResponderEliminarCara Nyabetse,
ResponderEliminarMuito interessante isso que escreves. Ainda que esta postagem se encontra agora na terceira página, terei que reproduzir o teu comentário numa nova postagem. Aguarde!
Abraco
Muito interessante o post e o blog de vocês. Sou brasileiro e vi a história deste jovem em um e-mail que recebi de um amigo daqui. O exemplo de vida dele é muiticontinental. Perseverança é a palavra chave, ao lado de educação e leitura.
ResponderEliminarforte abraço,
José Rosa. blog: http://joserosafilho.wordpress.com/
e-mail: joserosafilho@hotmail.com
Oi José
ResponderEliminarMuito obrigado pela visita ao Reflectindo. Vou espreitar o seu blog.
Abraco