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segunda-feira, julho 27, 2009

Manuel de Araújo em entrevista exclusiva ao Canal de Moçambique: SISE e Frelimo usam imprensa para destruir oposição (4)

Dhlakama deve mostrar que ele não lutou pelo poder, mas sim que lutou pela democracia

E o presidente Afonso Dhlakama, acredita que ainda pode conquistar simpatia dos moçambicanos e chegar à presidência da República?

Penso que sim. Dhlakama é um lider carismatico. Mas deverá mudar alguns métodos de trabalho e adoptar outros! Se não mudar ficará na história como aquele líder que lutou contra a ditadura e trouxe a liberdade, mas que não resistiu aos ditames da democracia, o que seria uma grande pena, para um homem que tanto fez por este País e por este Povo! Dhlakama deve mostrar que ele não lutou pelo poder, mas sim que lutou pela democracia! A mulher do César não basta ser fiel, deve parecê-lo! A luta contra a ditadura, a libertação deste povo (em termos de direitos politicos e civeis) é uma marca que ninguém lhe poderá retirar! Mas que poderá ficar indelevelmente manchada de nódoas se continuar a agir como o dono absoluto da Renamo! O dono da Renamo não deve ser um homem ou uma mulher, o dono da Renamo é o povo moçambicano que consentiu sacrifícios para que hoje vivessemos em paz, em democracia! O dono de Renamo é o povo que perdeu seus entes e queridos para que hoje tivessemos a liberdade de opinião, de expressão, de movimento, de reunião. Para que hoje o jornalista podesse escrever o que lhe vai na alma! Podesse escrever o que vai na alma do povo sem medos, receios nem ameaças. A Renamo deve criar o hábito do diálogo, da troca de ideias! E mais deve incentivar o surgimento de alternativas internas, quer em termos de liderança, quer em termos de ideias e ideais! Só assim a Renamo sobreviverá aos desafios da modernidade! Felizmente, a luta entre o velho e o novo, é uma das leis imutáveis da história! E essa luta sempre teve um vencedor, o NOVO!
Há correntes de opinião que advogam que em Moçambique não existe pressupostos para surgimento de terceiro partido político que possa superar a Frelimo e Renamo. Concorda com este tipo de pensamento?

Não concordo. Penso que há condições quer ideológicas, quer filosóficas, históricas, como materiais, para que surjam outros partidos que não seja a Frelimo e a Renamo. Negar isso é não saber ler a história! É negar a própria história da evolução humana! A humanidade já teve várias civilizações que desapareceram, o Egipto, Roma, Monomotapa.... Até o PRI, um partido que esteve no poder no Mexico por mais de trinta anos, acabou perdendo as eleições! Ninguém deve ou pode parar a roda da história! Penso que é salutar para Frelimo e a Renamo, para a democracia e para o país que haja outros partidos fortes. Assim deixariamos de ter a polarização na vida politica nacional!

Os que assim pensam, citam os casos de PDD, PIMO, FUMO, entre outros partidos, que aquando do seu surgimento, criaram muitas expectativas nos moçambicanos, mas ao fim do dia, viu-se que nem um assento parlamentar conseguiram conquistar...

Penso que as circunstâncias são diferentes! Por exemplo não tenho dúvidas nenhumas que o MDM irá conquistar alguns assentos no Parlamento! E isso é bom. Não posso precisar quantos. Mas posso vaticinar que poderá andar entre um mínimo de 10 e um máximo de 40. Isso é salutar para a democracia moçambicana! Antes havia a barreira dos 5% que foi um artifício montado em Roma para evitar a entrada de partidos que não ultrapassassem essa fasquia. Hoje esse obstáculo foi removido.
Manuel de Araújo, um dos poucos deputados jovens da AR, conseguiu se notabilizar logo pela coerência das suas intervenções. Qual é o seu futuro político? Recandidata-se a candidato a deputado pela Renamo?

Penso que o senhor jornalista precipitou-se um pouco. Está a assumir inter alia que eu já tomei a decisão de que quero continuar a ser deputado! (risos). Feliz ou infelizmente essa não é a verdade. Ainda não tomei tal decisão. Provavelmente entre os dias 20 a 25 de Julho de 2009 tomarei a posição. E caso tome a decisão de continuar como deputado, nessa altura também terei que tomar a decisão de por que partido concorrer! Sei que o tempo não esta do meu lado, mas resta algum que se bem gerido poderá possibilitar a tomada de uma decisão acertada!

Durante os 5 anos de engajamento político activo aprendi muito, ganhei muito em termos políticos, penso também ter contribuído para uma outra maneira de fazer política. Mas infelizmente algumas coisas e algumas agendas pessoais e sociais ficaram a perder! A minha vida académica e a FDZ (Fundação para o Desenvolvimento da Zambézia) foram os dois aspectos da minha vida que mais perderam com o meu engajamento político activo.
Neste momento estou a fazer um esforço titânico para recuperar uma parte desse outro Manuel de Araújo, que também tem direito a existência e que até certo ponto sustenta intelectual e financeiramente o Manuel de Araújo político.
Também tenho alguns projectos empresariais que ficaram a perder com a minha entrada na política activa! Infelizmente o politico honesto em Moçambique ainda morre a fome! Infelizmente inda não da para viver de politica honesta!
De recordar que apesar da minha formação, nos últimos 5 anos, devido a filiação partidária não ganhei nenhuma consultoria, ou nenhum projecto pois neste País para se ganhar uma consultoria, um projecto, um negocio e imperioso ter o cartão vermelho!

Numa entrevista que tive consigo um pouco depois das eleições autárquicas de Novembro, disse que a Renamo precisava de uma reestruturação política, que passava pela realização de um congresso, onde seria eleito o novo dirigente do partido, que até podia ser Afonso Dhlakama. O congresso não aconteceu e o líder continua o mesmo. Como membro senior do partido, que (auto)avaliação faz ao seu partido?

Para já não sou membro senior do partido! (risos). Sou um cidadão nacional que num dado momento da história do meu País decidiu ser útil ao seu País. Como sabe vivi e trabalhei durante vários anos no exterior. E nessa altura achei que juntar me a oposição seria a forma mais salutar de ajudar o meu País a crescer, pois qualquer democracia que se preze deve ter uma oposição forte. E mais, o partido no poder deveria ter na altura 20 senão 30 pessoas com a minha formação académica. A oposição não tinha muitas condições para atrair pessoas com o meu currículo. Portanto, decidi juntar me àquele que na minha opinião mais precisava dos meus serviços e não tinha recursos para pagar tais serviços!

Permita-me dizer-lhe que esse posicionamento na sua entrevista, exigir congresso, fez com que eu e o Dr Quelhas fossemos vistos e considerados por algum sector senior dentro do partido como não 'merecendo confiança politica' e a respectiva desvinculação do 'famigerado governo sombra'! Felizmente eu já me tinha 'auto-desvinculado' do tal governo por divergências internas em termos de acções, visão e de estratégias!

Devo confessar que até hoje não consegui perceber como o partido ainda não realizou o Congresso! A não realização do Congresso foi, na minha opinião a pior decisão que a actual liderança da Renamo tomou! Continuo esperançado que cedo o congresso se realizará, pois a realização do Congresso já deixou de ser um assunto interno da Renamo! É um imperativo nacional, pois está em jogo a democracia!

Imagine que a Frelimo decide que este ano não haverá eleições porque não há dinheiro! A Renamo seria a primeira a cá vir e dizer que a Frelimo é anti-democrática! É uma lógica perigosa para a democracia! No parlamento ou fora dele, no partido ou fora dele, na academia ou fora dela lutarei incansavelmente para que a democracia em Moçambique se consolide e não tenha donos!
Acha que Afonso Dhlakama está apegado ao poder?

Ao não realizar o congresso ele deixa passar essa imgem, que não é boa nem para ele, nem para o partido e muito menos para o País!

SISE e Frelimo usam jornalistas para eliminar da oposição pessoas que pensam


Há uma certa imprensa moçambicana que o referenciou como possível sucessor de Afonso Dhlakama na presidência do partido. Já ambicionou ser presidente da Renamo e quiça chegar à presidência da República?

(Risos...) Infelizmente encontrava me em Washington quando alguém me enviou um sms a informar-me que um semanário da praça havia feito essa elegação. Não liguei e nem li o referido artigo pois achei que se tratava de uma brincadeira!
Agora que me fazes esta pergunta começo a pensar se os que inventaram tal brincadeira não foram os mesmos que alimentaram a conversa fiada de que Daviz Simango queria substituir Afonso Dhlakama! E se não foram os mesmos que alimentaram a conversa fiada que levou a expulsão de Raul Domingos! Veja que esses boatos todos sem fundamento começam do mesmo sítio! Ou seja uma estratégia do SISE e da Frelimo, que usa jornalistas (incautos) para eliminar da oposição pessoas que pensam!
Fernando Mazanga, porta-voz da Renamo, disse à imprensa nos finais do ano passado, que “a classe intelectual da Renamo não constitui mais valia para o partido”. Fazia referência a si, Ismael Mussa e João Colaço. Os outros dois já se despediram do partido e muito provavelmente, juntaram-se ao MDM de Daviz Simango. Manuel digeriu estes pronunciamentos?

Meu pai, pessoa que venero bastante ensinou-me inter alia duas coisas! A primeira que se um maluco te insulta não deves respondê-lo, pois quem sai a perder és tu, e não o maluco!
Em segundo lugar, ele me ensinou que os homens de bem não devem discutir pessoas. Devem discutir ideias! Conheço o Colaço desde a Escola Secundaria em Quelimane e desde essa altura somos amigos. Conheço o Ismael desde o finais da década de 80. Fomos colegas até ao segundo ano no Instituto Superior de Relações Internacionais, até a altura em que ele desistiu do curso e foi estudar no Brasil. Fomos não só colegas de turma como de camarata! É meu amigo!
Não acredito que algum deles tenha deixado o partido por causa dos pronunciamentos do Mazanga! Seria uma total aberração! Seria dar muita importância ao Mazanga, coitado! Sabe que as vezes até sinto pena dele?

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