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terça-feira, janeiro 06, 2009

DIAGNÓSTICO MOÇAMBIQUE - O QUE FALHOU NO MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO?

Por Noé Nhantumbo

Com margens de reprovação jamais vistas o que diz o ministro? Educar difere de criar galinhas num aviário industrial...

A situação é de tal maneira grave que alguma coisa tem de ser dita pelo responsável do pelouro da Educação neste país. Quando existem referências de 80% de reprovados na 12.ª classe e 70% na 10.ª classe alguma coisa não anda bem. Alguma coisa tem de ser dita aos moçambicanos que exigem esclarecimento urgente. Economias precárias de encarregados de educação que sacrificadamente colocam seus filhos a estudar resultaram em investimento drenado para o esgoto na medida em que o sistema de educação em funcionamento no país não conseguiu transmitir os conhecimentos suficientes para que o nível de aproveitamento pedagógico fosse positivo para a maioria dos estudantes.

Primeiro, salários de fome. Depois salários de fome que foram desviados para custear estudos que não aconteceram, melhor deram em chumbos. Nem a sofisticação e desenvolvimento de sistemas informatizados de correcção de exames que se supunham – alguém supunha – o garante de menos fraudes e melhor aproveitamento trouxeram os resultados esperados. Chumbos atrás de chumbos. Uma desgraça de ensino, em suma.

Será o ruir de todo um edifício ou é a curva necessária para a normalização do sistema de educação no país? Será que são as classes primárias e secundárias que não estão conseguindo transmitir o necessário para que nos exames os alunos das classes mais avançadas se apresentem com os conhecimentos requeridos? Será simplesmente má qualidade do corpo docente? Será todo um ministério que não está conseguindo fiscalizar ao longo dos anos lectivos o que efectivamente acontece nas escolas? Será tudo resultado de um forçar de metas que o sistema não consegue suportar?

Que explicações é que o titular da pasta da educação apresenta para os moçambicanos?

O PR foi ao Parlamento declarar que o estado da nação é bom. Mas 70-80% de reprovações indicam que se está na negativa num sector essencial para o desenvolvimento do país. Daqueles que reprovaram muitos não continuarão estudando. Vão desse modo engrossar as fileiras dos desempregados e dos que não concluíram o último nível de educação a que se candidataram.

O país sente necessidade de uma massa crítica de trabalhadores possuidores dos conhecimentos indispensáveis para a execução de trabalho com a qualidade necessária. Se as pontes ou aquedutos sofrem danos precoces em decorrência de construção precária, se o trânsito é interrompido na principal rodovia do país porque o sistema de escoamento de águas pluviais não aguentou com as chuvas que caíram comos me verificou recentemente em Inhambane, isso tudo deve-se à incapacidade de projectar, realizar e fiscalizar obras, o que nos leva ao sistema de educação que o país possui. Quando a fome é crónica nalguns lugares do país, quando os rendimentos agrícolas são extremamente baixos, quando não se faz o aproveitamento económico possível dos recursos existentes isso é um dos derivados de uma educação distante das necessidades do país. É aqui que se vê que no essencial a governação está a falhar liminarmente. Não temos gente com formação capaz de permitir que o País se desenvolva porque os últimos anos de formação, de dita Educação, foram um fracasso que os números não deixam mentir.

Os factos falam por si e não é possível contrariar aquilo que é evidente.
Aquela transferência de tecnologias de que se fala, o ministério que lida com isso que até existe, as frequentes inaugurações de salas de informática e tecnologia de comunicação não substituem a educação de base sólida que é necessária para as pessoas puderem aproveitar essas condições que estão sendo criadas. É lógico que a mudança é um processo que leva o seu tempo mas também é verdade que os responsáveis pelos diversos sectores governamentais não se podem permitir adormecer a sombra de realizações que parecem castelos gigantes quando de facto não passam de gotas de água num oceano de dificuldades e necessidades não resolvidas. Aqui está a evidência de má governação indesmentível.

Ou se trabalha no sentido de instaurar mínimos sobre aquilo que uma escola deve possuir em termos de equipamentos e laboratórios ou continuar-se-á a proclamar aumento de um rede escolar que não oferece garantias de resultados.

Os meios do Estado estão claramente a ser mal usados. Quando se destina os fundos do estado para luxos, entre os quais viaturas de alta gama está-se a brincar com o Estado, está-se a abusar dos cidadãos, e está-se perante um governo que está a afundar o país.

Também o licenciamento da educação privada no país nos seus diversos níveis não está sendo acompanhado de uma fiscalização que possibilite verificar em tempo útil se estão ou não reunidas as condições para a prestação de um serviço de Educação com o nível padronizado pelo Ministério de Educação. Acaba-se por ter escolas privadas que também não diferem das escolas oficiais e nem por aí a desgraça que se vê é evitada.

Educar é diferente de produzir galinhas num aviário industrial.

Sobrestimar o valor das estatísticas está-se revelando fatal para o sistema educacional vigente no país. A qualidade nunca esteve tão sofrível. Há relatos até televisivos de que alunos da terceira classe não sabem ler. Até alunos de níveis mais altos com certificados na mão, não sabem ler nem escrever. É o falhanço total das Educação e é preciso que alguém seja responsabilizado por isso. Mas parece que estamos como quanto à criminalidade. Nunca há quem responda por isso. E depois são esses que deixam as coisas chegar a este ponto que nos vêm falar de patriotismo e de auto-estima?

O discurso de um aluno pré-universitário aproxima-se de um estudante da nona classe. Num sistema funcional de Educação quanto mais graduado for um cidadão mais se espera dele. No nosso caso os diplomas só garantem quantos anos os alunos andaram na escola, não garante que tenham aprendido mais por lá terem andado a obter diplomas mais anos.

Os técnicos de nível superior produzidos pelo sistema deixam muito a desejar quanto a sua qualidade a julgar pelo que dizem os empregadores. Não estou generalizando. Reconheço que existem excepções mas só servem para confirmar a regra de alguma coisa que está gravemente mal no sistema de Educação nacional. E quando algo de importância nacional se apresenta dessa maneira há que procurar soluções envolvendo todos aqueles que possam oferecer subsídios para o debate que não se pode continuar adiando.

O Ministério de Educação não pode ser um mistério produzindo resultados que não satisfazem o país. Toda a máquina montada desde a capital do país até às províncias deve obedecer a uma lógica de funcionamento em que esteja precavida a execução daquilo que são os planos sectoriais. A arrogância manifestada por alguns funcionários do sector quando confrontados com perguntas pertinentes são o sinónimo de fraqueza e de pouco domínio das responsabilidades que lhes estão atribuídas. Furtam-se à verdade e entram para o campo das explicações teóricas fáceis que não explicam nada sobre o descalabro de todo um sistema oneroso para o país.

Se é de incompetência que se trata, se é falta de capacidade e de domínio das técnicas que deveriam estar sendo usadas para administrar todo um sistema, então há que fazer um diagnóstico realístico da situação e tomar as medidas adequadas.
Não se pode transigir nem pactuar com funcionários pagos principescamente mas que não produzem os resultados esperados. O impacto da Educação é de tal maneira crucial para o país que não se podem aceitar falhanços com a dimensão de desastre nacional a que todos estamos a assistir.

Falhar não pode ser inscrito na agenda tal é a importância da educação para toda a estratégia de desenvolvimento nacional.

O governo do dia falhou e o país tem de exigir contas disso. A derrocada vai avolumar-se se nada for feito já. É treta quando se fala em combater a pobreza com estas condições e muita outra legislação conexo com que são nos andam a enganar. Nenhum empregador pode pensar em investir com as leis trabalhistas que temos quando vistas na perspectiva desta educação vergonhosa que temos, salvo algumas honrosas excepções que têm mais a ver com mérito de certos estudantes e professores individualmente do que com boa governação.

Retirado na sua íntegra do CANAL DE MOÇAMBIQUE – 06.01.2009

Nota: aqui temos que voltar mais uma vez às discussões sobre a educacão que anteriormente tivemos em diferentes fóruns, por exemplo, no Desenvolver Mocambique onde já foram abordados muitos temas sobre a qualidade do ensino.

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