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segunda-feira, novembro 24, 2008

Quelhas apela para Congresso extraordinário na Renamo

Na sequência da estrondosa derrota eleitoral

Maputo (Canal de Moçambique) – Dionásio Quelhas ex-deputado à Assembleia da República e um dos actuais assessores presidenciais da Renamo, defendeu ontem a realização de um congresso extraordinário, como possível solução para se ultrapassar a alegada crise de liderança, em que este partido supostamente esta mergulhado, bem como para o reencontro dos membros da até agora considerada maior formação politica da oposição nacional.

Contudo, Quelhas deixou subjacente que para si o problema da Renamo não se trata exactamente de Afonso Dhlakama, quando disse que dentro deste partido existem muitas figuras brilhantes entre os seus membros que podem candidatar-se à liderança da organização, tendo destacado que um deles se trata do actual líder.

Consideram analistas que a estrondosa derrota da Renamo, como partido politico que inspirava alternativa de governação para os cidadãos moçambicanos, se deve em grande medida, ao actual momento de divisão que se vive dentro de si própria, mas também por não haver estratégias visando fazer face ao principal adversário politico, o partido Frelimo no poder desde a independência.

De acordo com Quelhas, em declarações pouco depois da conferência de imprensa dada ontem por Afonso Dhlakama no seu escritório em Maputo, em reacção aos resultados das eleições municipais que se realizaram em 43 autarquias no passado dia 19 de Novembro que descreveu como tendo sido caracterizadas por certas irregularidades, "tudo passa por um congresso extraordinário, para escolher uma nova liderança do partido".

O líder da Renamo reconheceu ontem em conferência de imprensa a derrota do seu partido, mas disse que houve algumas irregularidades que se caracterizaram pelo transporte de populares de zonas fora das autarquias, a fim de irem votar a favor de certos candidatos e partidos nos municípios onde houve eleições (43), numa alusão clara à Frelimo e seus concorrentes que saíram esmagadoramente vencedores no plebiscito do dia 19 do corrente.

Quelhas pôs de lado a possibilidade de vir a afastar-se do partido, defendendo antes um congresso “para a legitimação da liderança da Renamo”.

"A grande questão é termos uma liderança estratégica. Até pode ser o presidente Dhlakama a continuar, desde que tenha coragem de ir às bases fazer o resgate para uma nova coesão e pacificação", disse um outro membro da Renamo este a coberto de anonimato.

Da cidade de Quelimane, um outro importante membro deste partido, afirmou que vai ser necessário compreender que o que está em falta é a coesão.

"Pensamos que se provou que tanto o PDD criado por Raul Domingos, como a eventual força política a criar por Daviz Simango, não serão alternativas para a Frelimo no poder desde a independência. É preciso ganhar coragem de modo que estes líderes voltem ao convívio dentro do partido para cativar mais o eleitorado", afirmou uma outra fonte da RENAMO, também a coberto do anonimato, uma forma de se fazer política naquela formação e que caracteriza bem o grau de democracia interna que nele actualmente vigora.

Há no entanto alguns indícios de que se Dhlakama não se retirar da direcção executiva do partido para uma posição que lhe assegure o prestigio como o homem que liderou a fase da luta armada e da implantação da democracia no País, uma cisão definitiva poderá vir a suceder o que se vaticina já como o fim da Renamo como partido ou a sua redução à mais insignificante escala de popularidade. Popularidade que aliás está já nos mais baixos níveis de sempre.

A forma como Afonso Dhlakama tem vindo a gerir o partido mas sobretudo a forma como ele tem tratado os quadros do partido vem criando um avolumar de descontentes que facilmente poderão dar pernas a um novo projecto político com capacidade para finalmente o país ter uma outra formação política que possa abalar os actual «status quo». A revolta interna na Renamo está a ganhar ritmo em todo o país e o posicionamento de Dionísio Quelhas é já visto como uma derradeira tentativa de salvar Afonso Dhlakama do pior.

(Bernardo Álvaro)

Fonte: Canal de Moçambique

8 comentários:

  1. Uf, finalmente uma lufada de ar nesta historia mas, tal como vaticinaram jornalistas presentes no Comunicado, e nao conferencia de imprensa, foi sol de pouca dura pois o que se esperava, da Perdiz-mor, nao aconteceu.

    Ha momentos em que se deve dar a mao a palmatoria e este é/era um deles se realmente se quer que a Renamo mantenha a posiçao antes conquistada como maior formaçao da oposiçao.

    Fazer um Congresso extraordinario para manter as mesmas perdizes no poleiro, é jogar areia aos olhos do povo que nesse momento sabe virar a cara contra o vento. De uma vez por todas, tomem postura de pessoas racionais e nao de quem nem para o proprio umbigo consegue olhar!

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  2. E essa de querer trazer de volta Daviz Simango e Raul Domingos, nao é mais do que uma tentativa de operar a bala atirada ao proprio pé à sangue frio!

    Porque aquando da campanha de Daviz, em que este pedia que votassem na Renamo as perdizes nao reagiam? Assumam primeiro os erros e reconheçam-nos publicamente para que possam ser perdoados.

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  3. "Porque aquando da campanha de Daviz, em que este pedia que votassem na Renamo as perdizes nao reagiam?"

    Já o escrevi no Diário de um Sociólogo.

    Penso que o grande trunfo de Daviz Simango na Renamo é precisamente este.

    Ele não traiu a Renamo.

    Ele até apelou sempre o voto na Renamo.

    Disse claramente:

    1 - Votem em mim para Presidente do Município;

    2 - Votem na Renamo para a Assembleia Municipal.

    Infelizmente só 1 mensagem passou ao Povo da Beira.

    Mas, a estratégia de Daviz mostra, atesta, a sua superior inteligência, e

    carácter.

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  4. Se assim é, umBhalane, que respeitem a grandeza desse homem, Daviz Simango!

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  5. Cara Ximbitane, nem eu esperava que o comunicado de Afonso Dhlakama fosse ao que deu ontem. Políticos sérios e comprometidos com os seus partidos não fariam o mesmo, mas espero que Dhlakama esteja para dizer outra coisa que aquela.

    Não sei se o que Guelhas propõe é Congresso Extraordinário ou é congresso ordinário que não está sendo realizado há já três anos. Mas Guelhas tem um ponto que faz desse congresso extraordinário: coesão e reconciliacão. Para chegar até lá, é necessário restruturar todo o partido e revêr profundamente os estatutos e programa.

    Agora, a pergunta é se os que se beneficiam da desorganizacão total do partido querem restauré-lo??????????

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  6. Caro UmBhalane, não tenho palavras a acrescentar. Admirei e admiro bastante a postura de Daviz Simango. É difícil entender que perante os múltiplos ataques ele tenha até aqui mantido um excelente perfil. Aqui reside sem dúvidas o verdadeiro futuro do nosso país.

    Como podemos capitalizá-lo?

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  7. Caro Reflectindo

    “Como podemos capitalizá-lo?”

    É evidente que Simango tem um projecto político,

    Tem um sonho.

    Tinha na sua cabeça um plano, um trajecto delineado nas circunstâncias normais.

    Depois veio a estória da sua excomunhão por uma ala da Renamo, ou uma sensibilidade política, como quiser.

    O cenário modificou-se completamente.

    A pergunta é pertinente, e

    1 – Depende do próprio Daviz Simango – quererá ele arrojar-se a uma luta sem tréguas, com inúmeros riscos…;

    2 – Como vão evoluir as coisas na Renamo – vai haver congresso para se discutirem as questões, e tirar ilações – responsabilidades, reformulação de cargos, direcção, etc, …com agenda aberta.

    3 – Vai ficar tudo na mesma, a ala dura consegue impor-se, como nada se tivesse passado.

    4 – Restará, por último, a alternativa de um caminho autónomo, com as forças dispersas da oposição, tanto à Renamo, como à Frelimo, e isto dependerá sempre do próprio, também.

    Mas vamos tendo calma, e

    conversando.

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  8. Caro UmBhlane,

    Boa dica essa. Estou reflectindo sobre os quatro pontos que colocaste.

    Mas mais do que esperarmos cómodos será que não é a responsabilidade de cada um de nós fazer a sua parte neste momento, sobretudo para manifestarmos que somos muitos a assumir os inúmeros riscos?

    Até que Daviz assumiu bruscamente os riscos, candidatando-se como independente, sempre houve crítica dos "conformistas" à oposicão, em particular à Renamo, por não fazer nada para contrariar a accão do partidão. Sempre me interroguei se é que estavamos a pensar que essa oposicão era enviada de Deus para salvar-nos.

    Estou preocupado que estejamos a ver realizados os sonhos de Marcelino dos Santos e Mariano Matsinhe.

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