Por Luís Loforte
Após a assinatura dos Acordos de Paz, em 1992, experimentei uma militância política activa filiando-me na FUMO – Frente Unida de Moçambique –, então liderada pelo conhecido advogado Domingos Arouca. Acreditava eu que não haveria consequências na vida pessoal daqueles que optassem por expressar as suas opiniões, às vezes em dissonância com a força política dominante. Cedo, porém, entendi que estava perante uma ilusão. Uma pura ilusão. Mas também acreditava, e acredito ainda, que Moçambique só conhecerá de facto o desenvolvimento quando deixar de andar a uma só velocidade política.
Nas primeiras eleições democráticas de 1994, os votos arrecadados pela FUMO, a acreditar nas projecções oficiais, não tiveram expressão que justificasse uma presença no Parlamento. A derrota não me incomodou lá grande coisa, ainda para mais tratando-se de uma primeira experiência, pois já o nosso timoneiro nos repetira até à exaustão que em política o imediatismo também prejudica, que é preciso ter paciência e perseverança. E sobretudo coerência. Mas nem todos assim pensavam, e foram incubando as suas ambições políticas até às portas das segundas eleições gerais, em 1999.
Enquanto esperávamos por um novo escrutínio, o de 99, fomos pacientemente edificando uma coligação que, aos olhos de muitos, se apresentava com um largo futuro. A coligação designava-se APD – Aliança Para a Democracia, integrando-a a FUMO, do Dr. Domingos Arouca, o MONAMO, do Dr. Máximo Dias, e o PCN, do Eng. Lutero Simango, irmão do igualmente Eng. Daviz Simango, hoje edil da Beira. Tudo se conjugava para um sucesso, até ao surgimento dos primeiros sinais de cisão e resultado de uma gritante falta de visão política por parte dos mais influentes componentes da coligação. Até aí, era divisa da coligação o princípio de que nunca nos coligaríamos com forças políticas de índole militarista, onde imperam decisões verticais, exactamente o que achávamos que caracterizava os dois maiores partidos de Moçambique.
O resto é o que se sabe: destruiu-se a APD, arrastando-se a FUMO, o MONAMO e o PCN para a RENAMO, com a qual se coligaram como autênticos apêndices políticos. Alguns conseguiriam ser deputados pela coligação, mas de tempos em tempos não deixavam de ser lembrados da sua condição de parceiros menores.
Todos vimos a humilhação por que pessoas como Máximo Dias passaram pela boca de Afonso Dhlakama, ou apodadas de miúdos, ou aproveitadores de boleias. Tudo porque cometeram a ousadia de pensar pela própria cabeça. Mas nada que não tivesse sido previsto, em 1999, pelo respeitado político Domingos Arouca, a quem os dissidentes, hoje humilhados a torto e a direito por Dhlakama, apelidavam de “velho e ultrapassado”.
Velho era, e é, sim, mas pensava com dez anos de avanço sobre os iluminados! E a procissão da humilhação ainda não saiu do adro!
Lembro-me aqui da reunião derradeira em que o Dr. Domingos Arouca tentou, em vão, convencer os mais acérrimos defensores da coligação com a RENAMO do erro político em que incorriam, do futuro sombrio que os aguardava.
Máximo Dias era o mais arguto, desdobrando-se em esclarecimentos sobre a importância da coligação com Afonso Dhlakama, enquanto os timoneiros do PCN nem sequer se mostravam interessados na proposta de uma moratória para a decisão da adesão à coligação com a RENAMO.
Nem sequer se aperceberam que se projectava a entrega da liderança da APD, um futuro partido, à liderança do PCN. Não tiveram a inteligência para fazer essa leitura. Pelo contrário, da boca de um deles ainda se ouviria, mais tarde, na mesma noite, em privado, dizer que se coligavam com a RENAMO para que não fossem “acusados de traidores”. Traição a quem? À tribo? À família? À região Centro?
Nesse mesmo dia abandonei a política activa. E, no dia seguinte, o Dr. Domingos Arouca anunciava a sua desvinculação da FUMO, arrepiando assim o caminho para a ascensão ao poder do oportunismo e do imediatismo.
Em relação aos imediatistas da FUMO, bem conhecidos de todos nós, ficam conhecidos, e
registados na nossa História, como aqueles que afastaram da vida política um dos mais ilustres filhos de Moçambique: o Dr. Domingos Arouca. Eis um subsídio para quem um dia a escrever.
Em relação ao PCN, e não propriamente em relação ao Eng. Daviz Simango, por quem me solidarizo em absoluto contra a burrice da RENAMO e, particularmente, de Afonso Dhlakama, só tenho a dizer que, tendo traído as expectativas do povo de um partido com futuro, ele hoje está pagando o preço do imediatismo, de não ter ouvido a voz esclarecida de um homem experiente e experimentado.
Para terminar, deixem-me destacar mais uma burrice da RENAMO e do seu líder: o pensar que está sendo sincera a FRELIMO, quando a eles se alia no combate a Daviz Simango.
Em política, as contas de somar e de subtrair têm de ser feitas a todo o momento. Nunca a FRELIMO esteve tão perto de voltar a liderar a Beira como acontece neste momento. Para isso, e contrariamente à (i)lógica da RENAMO, isso só tem sustentação com Manuel Pereira e Simango a concorrerem. Pereira vai à Beira não para “reunir os beirenses”, como ele diz, mas para dividi-los. E depois os ouviremos chorando pelo leite derramado!
Nota do reflectindo: Uma opinião excelente embora tenha partes para uma boa discussão. Se eu tivesse o endereço do Luís Loforte, mandar-lhe-ia um email com o um comentário integrante. Entretanto, na minha opinião não houve grande falha pela coligação dos menores partidos com a Renamo, pois creio que isso catalisou a nossa percepção quanto ao caminho democrático a trilharmos a partir de agora. Tenho dificuldades em acreditar que APD (Aliança Para a Democracia), mesmo que passasse a um partido sob PCN havia de assumir o protoganismo político em Moçambique dentro destes dias. Ao contrário, acho que a coligação do PCN à Renamo e consequentemente a eleição de Daviz Simango a edil da Beira e a oportunidade de mostrar uma boa governação, catalisou e catalisa a nossa percepção quanto a um terceiro caminho que não dependa de uma só velocidade. Alias, muitos dos que integram à Renamo não são pelo passado, mas pelo meio de contribuição à democracia. Sou de opinião que já temos o caminho a trilharmos aberto por Daviz Simango. Neste momento, cabe a quem ama a democracia e boa governação a apoiar à candidatura de Daviz Simango.
Após a assinatura dos Acordos de Paz, em 1992, experimentei uma militância política activa filiando-me na FUMO – Frente Unida de Moçambique –, então liderada pelo conhecido advogado Domingos Arouca. Acreditava eu que não haveria consequências na vida pessoal daqueles que optassem por expressar as suas opiniões, às vezes em dissonância com a força política dominante. Cedo, porém, entendi que estava perante uma ilusão. Uma pura ilusão. Mas também acreditava, e acredito ainda, que Moçambique só conhecerá de facto o desenvolvimento quando deixar de andar a uma só velocidade política.
Nas primeiras eleições democráticas de 1994, os votos arrecadados pela FUMO, a acreditar nas projecções oficiais, não tiveram expressão que justificasse uma presença no Parlamento. A derrota não me incomodou lá grande coisa, ainda para mais tratando-se de uma primeira experiência, pois já o nosso timoneiro nos repetira até à exaustão que em política o imediatismo também prejudica, que é preciso ter paciência e perseverança. E sobretudo coerência. Mas nem todos assim pensavam, e foram incubando as suas ambições políticas até às portas das segundas eleições gerais, em 1999.
Enquanto esperávamos por um novo escrutínio, o de 99, fomos pacientemente edificando uma coligação que, aos olhos de muitos, se apresentava com um largo futuro. A coligação designava-se APD – Aliança Para a Democracia, integrando-a a FUMO, do Dr. Domingos Arouca, o MONAMO, do Dr. Máximo Dias, e o PCN, do Eng. Lutero Simango, irmão do igualmente Eng. Daviz Simango, hoje edil da Beira. Tudo se conjugava para um sucesso, até ao surgimento dos primeiros sinais de cisão e resultado de uma gritante falta de visão política por parte dos mais influentes componentes da coligação. Até aí, era divisa da coligação o princípio de que nunca nos coligaríamos com forças políticas de índole militarista, onde imperam decisões verticais, exactamente o que achávamos que caracterizava os dois maiores partidos de Moçambique.
O resto é o que se sabe: destruiu-se a APD, arrastando-se a FUMO, o MONAMO e o PCN para a RENAMO, com a qual se coligaram como autênticos apêndices políticos. Alguns conseguiriam ser deputados pela coligação, mas de tempos em tempos não deixavam de ser lembrados da sua condição de parceiros menores.
Todos vimos a humilhação por que pessoas como Máximo Dias passaram pela boca de Afonso Dhlakama, ou apodadas de miúdos, ou aproveitadores de boleias. Tudo porque cometeram a ousadia de pensar pela própria cabeça. Mas nada que não tivesse sido previsto, em 1999, pelo respeitado político Domingos Arouca, a quem os dissidentes, hoje humilhados a torto e a direito por Dhlakama, apelidavam de “velho e ultrapassado”.
Velho era, e é, sim, mas pensava com dez anos de avanço sobre os iluminados! E a procissão da humilhação ainda não saiu do adro!
Lembro-me aqui da reunião derradeira em que o Dr. Domingos Arouca tentou, em vão, convencer os mais acérrimos defensores da coligação com a RENAMO do erro político em que incorriam, do futuro sombrio que os aguardava.
Máximo Dias era o mais arguto, desdobrando-se em esclarecimentos sobre a importância da coligação com Afonso Dhlakama, enquanto os timoneiros do PCN nem sequer se mostravam interessados na proposta de uma moratória para a decisão da adesão à coligação com a RENAMO.
Nem sequer se aperceberam que se projectava a entrega da liderança da APD, um futuro partido, à liderança do PCN. Não tiveram a inteligência para fazer essa leitura. Pelo contrário, da boca de um deles ainda se ouviria, mais tarde, na mesma noite, em privado, dizer que se coligavam com a RENAMO para que não fossem “acusados de traidores”. Traição a quem? À tribo? À família? À região Centro?
Nesse mesmo dia abandonei a política activa. E, no dia seguinte, o Dr. Domingos Arouca anunciava a sua desvinculação da FUMO, arrepiando assim o caminho para a ascensão ao poder do oportunismo e do imediatismo.
Em relação aos imediatistas da FUMO, bem conhecidos de todos nós, ficam conhecidos, e
registados na nossa História, como aqueles que afastaram da vida política um dos mais ilustres filhos de Moçambique: o Dr. Domingos Arouca. Eis um subsídio para quem um dia a escrever.
Em relação ao PCN, e não propriamente em relação ao Eng. Daviz Simango, por quem me solidarizo em absoluto contra a burrice da RENAMO e, particularmente, de Afonso Dhlakama, só tenho a dizer que, tendo traído as expectativas do povo de um partido com futuro, ele hoje está pagando o preço do imediatismo, de não ter ouvido a voz esclarecida de um homem experiente e experimentado.
Para terminar, deixem-me destacar mais uma burrice da RENAMO e do seu líder: o pensar que está sendo sincera a FRELIMO, quando a eles se alia no combate a Daviz Simango.
Em política, as contas de somar e de subtrair têm de ser feitas a todo o momento. Nunca a FRELIMO esteve tão perto de voltar a liderar a Beira como acontece neste momento. Para isso, e contrariamente à (i)lógica da RENAMO, isso só tem sustentação com Manuel Pereira e Simango a concorrerem. Pereira vai à Beira não para “reunir os beirenses”, como ele diz, mas para dividi-los. E depois os ouviremos chorando pelo leite derramado!
Fonte: Correio da Manhã
Nota do reflectindo: Uma opinião excelente embora tenha partes para uma boa discussão. Se eu tivesse o endereço do Luís Loforte, mandar-lhe-ia um email com o um comentário integrante. Entretanto, na minha opinião não houve grande falha pela coligação dos menores partidos com a Renamo, pois creio que isso catalisou a nossa percepção quanto ao caminho democrático a trilharmos a partir de agora. Tenho dificuldades em acreditar que APD (Aliança Para a Democracia), mesmo que passasse a um partido sob PCN havia de assumir o protoganismo político em Moçambique dentro destes dias. Ao contrário, acho que a coligação do PCN à Renamo e consequentemente a eleição de Daviz Simango a edil da Beira e a oportunidade de mostrar uma boa governação, catalisou e catalisa a nossa percepção quanto a um terceiro caminho que não dependa de uma só velocidade. Alias, muitos dos que integram à Renamo não são pelo passado, mas pelo meio de contribuição à democracia. Sou de opinião que já temos o caminho a trilharmos aberto por Daviz Simango. Neste momento, cabe a quem ama a democracia e boa governação a apoiar à candidatura de Daviz Simango.
Se Dhlakama/Renamo fossem realmente democraticos, seria pelo povo. Faria oque o povo quer, e o oque o povo da Beira quer?
ResponderEliminarDEVIZ SIMANGO para presidente do munincipio
Mas nada me parece, Nelson. Antes pelo contrário há quem pensa em ser deputado ou renovar o "mandato", combatendo o desejo dos beirenses.
ResponderEliminarhehehehe, há pessoas que não se cansam de dar um tiro no próprio pé!
ResponderEliminarXim, são pessoas sem o mínimo de vergonha, pois desde que este assunto comecou, notou-se um isolamento total e uma erosão do respeito que essa gente merecia. Agora o que ficou é estudar essa gente, ja é um fenómeno.
ResponderEliminarPelo que vejo, o Loforte acha que foi ma ideia, o Daviz se ter condidatado pela RUE em 2004. Pode ter sido um erro, mas a verdade e' que esse facto nos deu a conhecer, para o bem da democracia, que a oposicao ate entao existente, era uma fantochada! Nos so podemos agradecer a Daviz pela ousadia que teve. Ademais, o editorial do Magazine e' deveras elucidativo, acerca da mediocridade do chamado lider da oposicao!
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