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quarta-feira, setembro 10, 2008

Democracia nos partidos

Por Mouzinho de Albuquerque

ANTEONTEM conversava com alguns colegas de profissão sobre o processo de eleição ou indicação através das propaladas “bases” de candidatos a presidentes dos conselhos municipais pelos maiores partidos e principais protagonistas da cena política nacional, nomeadamente Frelimo e Renamo.

A conversa suscitou grande interesse pelo facto de ser a primeira vez que tal eleição ou indicação provoca “crises” sem precedentes no seio destes dois partidos, com destaque para a Renamo, já que na Frelimo nunca pareceu ter sido vista ou admitida como tratando-se de uma crise a recusa das “bases” da recandidatura de Eneas Comiche ao cargo de presidente do Município de Maputo.

A premissa principal era a necessidade de desenvolvimento e consolidação da nossa jovem democracia com sustentabilidade política e social, não só no seio dos partidos políticos como também na sociedade em que estamos inseridos, tendo em conta o impacto dessas aparentes crises. Expunhamos diversos aspectos enfrentados ou que poderão ser sempre enfrentados para encontrar líderes políticos talentosos em alguns partidos políticos que possam contribuir, sem sobressaltos, para o avanço do nosso processo democrático que tanto desejamos.

Tal é o caso de (já dissemos isto noutras ocasiões) enquanto a visão e desejo que se diz serem “honestamente” das “bases” dos partidos, na eleição ou indicação desses candidatos, estarem sob “influências estranhas” ou manipulação política, em conivência com os respectivos líderes.

Em uma hora e meia, listamos as mais diversas ausências de competências dos nossos políticos e a percepção de que, à semelhança das outras áreas, a verdadeira democracia evolui em função também do crescimento sobretudo da consciência dos dirigentes partidários, além da participação visível do povo na tomada de decisões e não apenas a indicação ou eleição dos deputados ou presidentes dos Conselhos Municipais através dos partidos políticos.

Depreendi igualmente que a existência da verdadeira democracia popular no nosso país evitaria que, por exemplo, o chumbo das recandidaturas de Eneas Comiche e Daviz Simango, este último ao cargo de presidente do Conselho Municipal da Beira, criasse inquietações que traduzissem, em certa medida, um crescente mal-estar não só entre as estruturas dirigentes destas formações políticas, como também no seio dos militantes e simpatizantes.

O caso da Beira pode ser visto, conforme está dito, como uma “crise” sem precedentes que aconteceu na Renamo, quando comparado com o da Frelimo, na cidade de Maputo, mas este não deixa de ser revelador das aparentes dificuldades de coexistência pacífica entre as diferentes alas existentes dentro do mais antigo partido político do país, daí que merecia também que fosse muito comentado e explorado à semelhança do que se regista com o partido do “pai” da democracia em Moçambique.

Na verdade a tomada de opções que bulam decisivamente com o nosso futuro político por parte dos partidos Frelimo e Renamo é uma mais-valia para a qualidade da nossa democracia. Mas o que não dá credibilidade à nossa democracia é a forma como algumas pessoas com poder de decisão nos partidos políticos “fazem e desfazem” do que propriamente das “bases” partidárias.

E se terá sido assim o que aconteceu com a Frelimo e Renamo, nas cidades de Maputo e Beira, então seria de muito bom tom, para a solidificação da democracia multipartidária no nosso país, que mesmo os considerados guardiões do politicamente correcto sobre a governação da Frelimo “atacassem”, com o mesmo espírito crítico, isto é, com contundência e linguagem “civilizada”, o procedimento destes dois partidos.

Ainda bem que o tempo começa a fugir, pois está cada vez mais perto o momento de exigir resultados do desempenho dos partidos políticos, através do voto, na realização das eleições autárquicas de 19 de Novembro do corrente ano.
Retirado na sua íntegra do Jornal Notícias online

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