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quinta-feira, julho 03, 2008

Chega!

ONDAS DO CHIVEVE

Por Eliseu Bento

O Zimbabwe continua a ser motivo de todas as conversas em todo o mundo. Agora, com a já terminada cimeira da União Africana, o nosso vizinho subiu ainda mais na agenda mundial dividindo as opiniões mais abalizadas, se quisermos, dos líderes sobretudo do nosso Continente.

Vale a pena aludir aqui ao pronunciamento do Presidente do Gabão que foi capaz de dizer que Robert Mugabe tinha sido eleito pelo que devia ser simplesmente aceite como tal.

Para nós aqui neste modesto espaço este posicionamento foi simplesmente vergonhoso, mas também pode ser motivo de elogios. Pelo menos o estadista gabones, o mais antigo no poder, pode ter sido coerente consigo mesmo e pode ter tido a coragem que os outros não têm de dizer o que lhes vai na alma, embora naturalmente pensem da mesma maneira.

Merece elogios o gabones porque disse o que realmente pensa e tem estado a fazer ao longo de todos os anos em que se mantém no poder. Portanto, só nos resta agradecer-lhe a coerência e a diplomacia ruidosa em contraste com as diplomacias silenciosas que aos olhos de muitos nunca tomam uma posição, pelo menos prática.

Ou seja, estamos mais ou menos claros que muitos estadistas africanos mantêm-se no poder porque só eles e as suas elites estão interessados nisso. Não é preciso dizer que vale tudo nesses casos, como valeu agora no Zimbabwe e valeu num passado pouco recente no Quénia.

E os exemplos são vários e ainda vamos ter outros neste continente potencialmente pobre não apenas na matéria mas também, e sobretudo, no espírito.

Para nós, Morgan Tsvangirai até devia ir para casa. Devia ir para a reforma, porque em nosso modesto entender ele já conseguiu ser a expressão máxima do sentimento e da vontade do povo zimbabweano ao vencer os escrutínios do passado dia 29 de Março.

Tsivangirai ganhou as eleições aos olhos de todo o mundo. Portanto, já destronou Mugabe, o resto são histórias. Tsivangirai já está na história por isso para nós devia ir para casa descansar porque, efectivamente, já cumpriu a sua missão.

Está mais do que claro que os zimbabweanos já disseram o que querem e tudo quanto seja diferente disso estará a ser-lhes imposto pela vontade de alguém que tem a felicidade de receber apoios e aplausos de alguns talvez insensíveis ao sofrimento do povo zimbabweano.

Continua no entanto a fazer mossa a forma como os outros estadistas até aceitam que Mugabe lhes falte respeito ao não acatar as suas recomendações. Foi assim que declinou a sua participação numa cimeira na Zâmbia enviando pessoal menor. E isso terá mesmo provocado desavenças entre ele e Levy Mwanawasa, o que tudo indica que ainda não foi ultrapassado. Foi o que aconteceu muito recentemente quando do encontro da “troika” que se reuniu na Suazilândia na qual sugeriam o adiamento da segunda volta das eleições. E mesmo depois disso!

Os observadores da SADC já disseram que os resultados destas eleições não reflectem a vontade do povo zimbabweano mas nem isso cabe nos ouvidos das elites zimbabweanas.
Estranho é que, de facto, os outros líderes aceitem isso, alguns, infelizmente a maioria que acaba sendo suficiente para se calhar legitimar o perdedor Mugabe.

Uma palavra de apreço para a diplomacia do Botswana que tomou uma posição rígida negando-se a reconhecer os resultados da segunda volta das eleições do dia 27 de Junho.

O presidente de Moçambique, Armando Guebuza, disse esta terça-feira no Egipto que as partes beligerantes no Zimbabwe se deviam sentar à mesma mesa para encontrarem uma saída. Disse ainda que a SADC estava bastante preocupada com o que está a acontecer.

Teremos que esperar para vermos se Mugabe vai desta vez acatar com estes pronunciamentos e preocupações porque, de facto, já chega!

Vem nos à memória a cimeira Europa-África em Lisboa na qual praticamente Robert Mugabe foi levado ao colo pelos seus amigos estadistas africanos contra a vontade de muitos outros africanos principalmente os martirizados zimbabweanos.

Aliás, nessa altura se disse que a sua presença na cimeira só serviria para reforçar a sua posição, o que equivalia a dizer que continuaria a fazer das suas no país condenando ainda mais o seu povo ao sofrimento, o que podia não suceder se os outros chefes tomassem outra posição.

4 comentários:

  1. Oi JS!

    O que mantém Mugabe no poder é exatamente falta de diálogo internamente no ZANU-PF e com a MDC externamente. o poder é doce

    obrigado reflectindo

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  2. Yes, meu amigo: o poder é doce e pior quando ele garante mordomias. Até tudo isto é capaz de deixar-nos todos decepcionados.
    Sempre acreditei que se os partidos africanos com excepcão de poucos, não fossem comandados de cima para baixo e pertencas de seus líderes com apoio de uma dezenas de acomodados, hoje não estariamos aqui a discutir sobre um velho de 84 anos que já governou o Zimbabwe durante 27 anos.

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  3. Salutar esta' mudanc,a de paradigma da parte do "Onda de Chiveve". Hoje com um condao mais critico e realista. Melhor ainda foi notar a isencao em alguns aspectos da sua narrativa. Apenas fac,o um reparo na maneira tenue e enfadonha como se aproxima a actuacao do nosso governo nesta questao Zimbabuena.

    Ninguem esta' a dormir para nao perceber que Guebuza se deu conta do seu andar cognitivo-letargico, preferindo usar o noticias para veicular o que nao fez: Pressionar Mugabe. Agora vir ao publico divagar palavras mal cozidas, de garantias tidas de Mugabe, sobre a necessidade de sentar a mesma mesa, e' uma quimera.

    Enfim, "nao basta que seja pura e justa a nossa causa, mas e' preciso que a pureza e a justeza existam dentro de no's" (JR).

    Dede

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  4. Também notei isso. Foi paradigma e é de congratular, mas os nossos jornalistas devem saber em exigir e isso passa por interpretar o silêncio dos nossos governantes.

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