A nossa escritora Paulina Chiziane acaba lançando um livro que ainda não o li, mas julgo-o de muito interessante por ela abrir mais um espaço para debate social em Moçambique. No título de um artigo que retirei do Mocambique para todos vem: Muitas mulheres moçambicanas olham homem branco como salvação. Isso por si é interessante.
Também me interrogo pela afirmação de que a província da Zambézia tenha a maior miscigenacão. O que dizem as nossas estatisticas, os nossos sociólogos, historiadores ou todos esses estudiosos das ciências socias? Revelam este segredo? E se não, porquê? Disto recordo-me de a Zambézia ter sido considerada a província com mais assimilados ou cidadãos com nacionalidade portuguesa na altura da independência nacional. E o que aconteceu a esses concidadãos? Há quem ousa estudar esse fenómeno?
O título também me lembra do Ualalapi que li há muitos anos atrás sobre como a mulher indígena era usada sexualmente pelo homem branco. Haverá alguma contradição? Será que a mulher indígena, a negrita, que se metia com homem branco, fazia isso voluntariamente, isto é, era para fazer filhos mulatos que escapassem do xibalo ou escravatura? E (todo) o homem branco que se metia sexualmente com uma mulher negra/indígena era de facto por amor? Se pus o todo entre parenteses é porque de facto conheci homens brancos que se casaram com negras por amor embora não saiba se as negras aceitaram os brancos como uma salvação ou por amor.
Profundamente indo, podemos reflectir do porquê no tempo colonial era difícil que um homem negro se casasse com uma mulher branca? Indo aos factos, parece que isto mudou ou ficou equilibrado depois da independência. Mas teria isto mudado por uma declaracão? Porquê agora e não antes?
Há algo a reparar, pois enquanto uma mulher portuguesa de cor branca, era até 1975 difícil de se casar com um moçambicano negro, hoje há muitas mulheres, principalmente doutros países que Portugal que se casam com negros moçambicanos. Como se explica isto?
Não sou historiador, mas podemos contextualizar um pouco essa questão.
ResponderEliminarA pesquisa da História de Moçambique ainda está processo. As pesquisas científicas as vezes seguem a conjuntura de qualquer Estado. Falo do Estado como nosso, que ganhou independencia a poucos anos atrás. Daí, revelando um vazio, não um vazio em termos geral, mas de forma específica a questão da mulher no período colonial.
Outra questão, é a história machista que o mundo conheceu. Onde a mulher foi marginalizada, não considerada como actor histórico. O reflexo é este, onde a mulher sómente é vista no sentido sentimental, de amor, sexo e sedução de agentes coloniais para posterior casamento.
A existência de muitos mulatos na Zambézia, não se pode dissociar com outros fenómenos históricos no periodo do Salazarismo, e planos de Fomento e assentamento da população colona no Vale do Zambeze, ainda que se estende até algumas províncias do Centro de Moçambique como Tete, Manica e Sofala. Antes deste período vê-se o caso dos Prazos do Vale do Zambeze, onde a miscegenação foi muito notável ainda o choque de culturas foi algo marcante (Serra, C. dir. História de Moçambique I e II Vols. ; Allen Isaacman e Barbara Isaacman…a obra não vêm na ideia)
O período colonial pode ser visto o papel da mulher e de homens, este é um facto muito importante para compreender as assimetrias no relacionamento entre homens negros e mulheres brancas. Não é, a questão da raça que está em jogo acho eu, porque se assim fosse os homens não teriam se metido com mulheres negras. Acho eu, que tem a ver com a forma como o relacionamento entre negros subordinados dos colonos e a socialização destes . Também, acho eu que não se pode ver este facto como absoluto, há que fazer-se mesmo pesquisas para compreender bem o período colonial se houve casos de envolvimento de homens negros com brancas, porque ainda constitui sensum comum.
Este é um facto delicado, a diferença em que tomamos em Moçambique é amarga, não é sómente no período colonial que o homem negro não se “mete” com mulheres brancas. Repare que temos uma elite económica de Indianos Moçambicanizados pelos factores históricos, difícilmente ouve-se falar de casamento entre negro e indiano, mesmo com posse. Daí, que levantamos problemas como a coadunação cultural a questão da casta e mais.
Gostava de ler a obra da respeitosa Paulina Chiziane, assim o possa compreender o porquê de homens broncos constituirem salvação para mulheres negras.
Aposto eu que não me arrependerei depois de o ter lido.
Obrigado pela contribuicão. Eu acho que o livro é interessante e pode abrir um bom debate. A outra parte que acho também interessante é no que toca aos mulatos no mercado de emprego. A Paulina Chiziane está a matar um mito?
ResponderEliminarA Paulina é um Às! Para além de grande romancista, é uma estudiosa dos fenomenos socias, culturais e históricos.
ResponderEliminarNão vejo a hora de mergulhar os olhos nessa obra e esclarecer alguns mitos que povoam nossas mentes.
Embora zambeziano, nao queria puxar a basa 'a sardinha para tambe'm tecer considerandos 'a volta do ultimo romance da escritora Paulina. Na verdade a miscegenacao que se verificou deixando largos rastos em territorio zambeziano e' uma pagina da historia ainda nao retratada. Paulina, se calhar, nao quis, enfrentar a historia por historia, mas dando sua leitura um outro condao, outro peso, outra veste neste Romance. Seria de todo bom que esta edicao fosse 'bebida' [lida] para dela saboreamos o que^, como, com quem e para que^ da historia lindo deste povo. De resto podia dar meus largos parabens a Escrito, por esta prenda para os olhos!
ResponderEliminarPS. Alguem conhece o blogue ou website da Paulina Chiziane? Agradecia!
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