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terça-feira, outubro 16, 2007

Cabo Verde: caso execpcional dos PALOPs

Sabe-se que Cabo Verde é um caso excepional dos PALOPs (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) em questões de desenvolvimento humano, governação, liberdade de expressão, democracia. Também é um dos casos excepicionais no continente africano e entre esses excepionais na nossa zona, na África Austral, temos apenas o Botswana.
Fernando Lima, levanta, uma questão para reflexão com o seguinte artigo:


Porquê Cabo Verde?

Por Fernando Lima*

Está em alta a publicações de índices internacionais sobre os mais variados assuntos. Ao nível dos Estados, argumentam os especialistas que esta visibilidade encoraja a noção de transparência que deve presidir à gestão da coisa pública.
Os governos e os seus propagandistas, sobretudo ao nosso nível, empurram para debaixo da alcatifa os maus resultados e puxam para as parangonas os números de prestígio. Há mesmo quem pratique ilusionismo com números e percentagens. Como aconteceu recentemente com o índice “fazer negócios” patrocinado pelo Banco Mundial. Moçambique teve mais notas negativas que positivas, mas como subiu algumas casas no “ranking” foi motivo de assinalável sucesso.
Mas é um outro país que me surpreende sempre pela positiva nestas estatísticas internacionais. Cabo Verde.
Quer se trate de corrupção, liberdade de imprensa, boa governação, fazer negócios, Cabo Verde é sempre o PALOP de vanguarda.
No índice mais consensual que é anualmente divulgado pelas Nações Unidas, o Índice do Desenvolvimento Humano, Cabo Verde ocupa o 106º. posto, bem à frente de todos os outros países PALOP. Moçambique, por exemplo, está no 10º. lugar a contar da cauda, o que não é mau para quem já foi mesmo último.
O que será que os cabo-verdianos fazem melhor que os seus irmãos PALOP ?
Recursos não têm. Aí os angolanos dão cartas mas nem por isso estão mais prestigiados pois ocupam habitualmente lugares abaixo dos seus “rivais” moçambicanos.
Cabo Verde de verde mesmo só tem o nome. Há excepção da Ilha de Santo Antão, onde cana de açúcar dá para fazer grogue em alambique tradicional, Cabo Verde é pedra e poeira.
Da independência a 1980 estiveram ligados ao projecto político que os uniu à Guiné-Bissau. Muitos quadros do movimento de libertação, o mais conhecido e prestigiado entre os PALOP, vinham de Cabo Verde. Os guineenses golpearam o presidente e praticamente expulsaram os cabo-verdianos do país, à mistura com muitos insultos. O que também acontece sem golpe em Angola e São Tomé onde há assinaláveis comunidades de caboverdianos. Da Guiné fala-se hoje como “estudo de caso” como Estado falhado. Mais fundo não pode bater, agora que parece um enorme acampamento do narcotráfico em trânsito para a Europa.
Os cabo-verdianos “refizeram-se” politicamente no arquipélago de chuvas avaras. Ultrapassaram politicamente os seus cismas “trotskistas”, uma relação difícil com a igreja católica que custou ao partido independentista a primeira eleição com sabor multipartidário.
Ao contrário do que aconteceu noutros processos africanos – veja-se a Zâmbia e o Quénia – o partido independentista não se desintegrou com a perda do poder. Deu a volta aos dinossauros, lavou a cara, refrescou o discurso e provou que também em África é possível a prática do paradigma da alternância democrática, sempre referenciada nos manuais de ciência política.
Há falta de recursos naturais argumenta-se que, sendo ilhas, é sempre possível atrair ajuda internacional. Tem alguma fundamentação, mas veja-se o caso de São Tomé, país muito mais pequeno, um aglomerado de famílias, mas onde os políticos andam invariavelmente de costas voltadas e os polícias se divertem em golpes e contra-golpes de opereta.
Com escassez de argumentação contrária até há quem diga que não são africanos. Como os etíopes que também têm as suas próprias teorias de identidade.
Arrisco um pequeno palpite numa semana em que discutia amigavelmente, em tempestade de ideias de fim de semana, alguns desafios ao desenvolvimento.
Uma das chaves do sucesso caboverdiano são os seus recursos humanos. E são os recursos humanos que alavancam – um jargão que está em moda – este pequeno país para os índices e “rankings”que conhecemos.
Há dias fiquei a saber que os dinamarqueses lideram o índice de felicidade. Fiquei frustado por não saber ocupado pelos caboverdianos.
Mas a julgar pelo agitar do “funaná” não devem estar mal cotados.

*Espinhos da Micaia

Fonte: SAVANA - 12.10.2007

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