Páginas

quinta-feira, setembro 06, 2007

No rescaldo de um grande centenário

Por David Aloni

A cidade da Beira, essa princesa e verdadeira pérola do Índico, celebrou, com pompa e circunstância bem merecidas, o jubileu dos 100 anos de existência como cidade. Foi a 20 de Agosto de 2007. Foi um grande centenário e ficará, indelevelmente, registado nos Anais da História de tão garbosa urbe como o é a Beira que nos lembra o nome de quem e em cuja memória e homenagem foi dedicada: O Príncipe Real D. Luís Filipe.Quis a Providência Divina que o articulista destas linhas lá estivesse para, justamente, testemunhar, com os seus próprios olhos, e ao vivo, tamanha efeméride que não é dado a todos viver em carne e espírito. Aquilo foi pura e simplesmente belo e maravilhoso. Um encanto extasiante.
Quero acreditar que todo aquele que foi bafejado pela raríssima sorte de presenciar e testemunhar os múltiplos e variados actos alusivos ao centenário não deixou (porque não podia) de ficar maravilhado e galvanizado pelo carinho e calor de doce ternura que a cidade erradiava para todos os lados e cantos da urbe.
Os bairros vibravam de alegria e júbilo. Uma euforia e total loucura invadiram os bairros sub-urbanos, porque, no Município da Beira, as periferias são, contrariamente ao que normalmente acontece, habitadas por munícipes com um nome. Não são meros números ou simples algarismos, simbolizando pessoas, “quase-pessoas” ou ninguéns. É que, na cidade da Beira, todo o munícipe foi e continua a ser dignificado pela máquina que lidera e dirige os destinos da sempre vibrante, resistente e fogosamente bairrista capital de Sofala - Beira - esse berço incontestável e quartel general da Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO.
O acto solene das celebrações realizou-se na praça do Município, no coração da cidade, onde tiveram lugar (perdoe-se-me o galicismo) preces tradicionais, das igrejas católicas e protestante. Era a acção de graças a Deus pelo centenário. Não faltaram invocações ao grande espírito, pedindo benção para a cidade e seus dirigentes, ao mesmo tempo que se implorava a protecção divina para a cidade e sua população.
Seguiram-se os discursos da praxe, alusivos à efeméride, com mensagens profundas e cheias de significados tanto sociais, políticos, económicos e históricos-culturais.
Para um bom entendedor, as mensagens foram, quanto a mim, suficientemente eloquentes e galvanizantes. Quem quis aprender, aprendeu e interiorizou o conteúdo dos discursos proferidos por várias personalidades.
A organização das celebrações do centenário, a disciplina, a segurança e a ordem públicas foram impecáveis. Não se registou um único incidente. Tranquilidade, paz, sossego e harmonia absolutos foi o que a cidade da Beira testemunhou, facto que constituiu uma lição sobre como se garante a tranquilidade, segurança e ordem pública de uma cidade.
Por isso se o ministro do Interior e o seu invisível e inexistente comandante-geral da PRM fossem minimamente simples e humildes no desempenho das suas funções deveriam deslocar-se à Beira para aprenderem o “métier” de como garantir a segurança dos cidadãos.Não seria nenhuma humilhação, mas dignidade, e os moçambicanos em geral e os habitantes da cidade de Maputo e da província do mesmo nome em particular só ficariam a ganhar com a experiência vivida, na cidade do Chiveve, porque, afinal a RENAMO tem e teve, sempre, capacidade e competência técnico-profissional para dirigir, governar e administrar este Moçambique tão desgovernado quanto dilapidado e esfoliado por quem o deveria governar para o bem de todos os filhos desta “pátria amada”, por que Eduardo Chivambo Mondlane e André Matsangaice deram a vida.
Como soe dizer-se “não há bela sem senão”; o senão veio do partido dos camaradas, os quais, sem o mínimo de pudor político-social e vergonha na cara, irromperam pela praça dentro, empunhando bandeiras da FRELIMO, quando a RENAMO e outros partidos da oposição não tinham e nem exibiram uma única flámula partidária, porque a festa dos 100 anos da cidade não tinha nada a ver com partidos políticos.
Era apenas festa de todos os munícipes da Beira, dos naturais, amigos e simpatizantes daquela urbe.
Por isso, a FRELIMO saiu, mais uma vez, molhada e humilhada perante a dignidade e “nobríssima” postura sociopolítica da RENAMO.
Foi assim que vimos as bandeiras vermelhas da FRELIMO a sumirem uma por uma, porque estavam a mais, naquela cerimónia solene dos 100 anos da cidade da Beira, “a minha cidade”, como bem frisava o poema declamado pela beirense de raça branca de seu nome Almadina Maria dos Reis Maia, vulgarmente mais conhecida por DINA, mulher de garra e ventas nas narinas. Vive na Beira há 40 anos e tem histórias da cidade da Beira para contar. “É um autêntico museu e biblioteca em carne e osso. Vale a pena ouvi-la como eu a ouvi e gostaria de estar sempre a ouvi-la.
Foi com muita emoção que ouvi, pela boca do edil da cidade, o jovem engenheiro Daviz Mbepo Simango, evocar nomes como D. Sebastião Soares da Resende, primeiro bispo da Diocese da Beira que se estendia desde a cidade Cátedra, passando pela actual província de Manica, Tete até à Zambézia. Por ele fui crismado, na missão de S. Francisco Xavier de Lifidzi, na Angónia, no ano de 1953. Aquele prelado foi um autêntico e coerente semeador da palavra de Deus e precursor da teologia da libertação, em Moçambique. Por isso se tornou adversário político declarado de Salazar. A sua carta pastoral “Moçambique na encruzilhada” incendiou Portugal e todas as suas colónias, no Ultramar.
Ver o D. Sebastião Soares da Resende a ser galardoado, a título póstumo, com a medalha do centenário, por um filho do Reverendo Uria Simango, constituiu o momento mais alto daquele solene acto.Claro que quem conheceu o primeiro bispo da Diocese da Beira, fundador da Escola Normal de Boroma e do Seminário de Zóbuè, nunca deixará de ver no D. Jaime Pedro Gonçalves, arcebispo da Beira, o verdadeiro e genuíno sucessor e continuador da obra evangelizadora do seu predecessor de saudosa e eterna memória.Felizmente, o sucessor de D. Sebastião, na cátedra da Beira, também foi laureado, e a justiça foi feita.Estes são, apenas, alguns ecos das celebrações do centenário da cidade, capital da zona Centro do país. A nossa capital por antonomásia.

Parabéns, cidade da Beira!
Parabéns, munícipes da Beira!
Parabéns, DAVIZ MBEPO SIMANGO!

Fonte: SAVANA (31.08.2007)

1 comentário:

  1. Procuro alguém com o nome Dina que viveu na Beira nos anos 70.
    Vivia na altura no "Bairro das Palmeiras". Será essa poetisa Dina que faz menção este artigo?

    ResponderEliminar