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quinta-feira, dezembro 14, 2006

Valorização das línguas nacionais

Por MOUZINHO DE ALBUQUERQUE

AINDA volto a falar sobre a propalada valorização global das nossas línguas nacionais em função do que cada vez mais parece que alguns dos nossos dirigentes têm demonstrado publicamente nesta matéria

Salientei neste “cantinho” que todos os cidadãos deste país, independentemente das suas preferências político-partidárias e religiosas, tinham valores linguísticos indestrutíveis a respeitar, a fortificar e dar-lhes continuidade a sua expressividade sem preconceitos de superioridade de uns e inferioridade de outros e esta tarefa cabia, sobretudo, aos governantes a vários níveis.

Dizia que para isso era preciso que ficássemos cientes de que muito tínhamos que mudar, começando por nós próprios para que criássemos uma nova mentalidade, na perspectiva de todas as nossas línguas nacionais merecerem no mínimo respeito, valorização e consideração, pois má contextualização na utilização de algumas delas pode constituir um "joio" desse objectivo, bem como na luta que nos une contra o tribalismo e regionalismo e outros preconceitos que não precisamos.

Sublinhei que não se tinha nada contra a língua nacional nenhuma, se bem que tínhamos também o dever de respeitar e valorizar as línguas de cada tribo ou etnia do nosso país, mas não parecia que fosse correcto que um dirigente governamental desta nação optasse por se expressar em sua língua materna ou doutra tribo perante pessoas de proveniência diversa num fórum nacional ou instituição prestigiada, como o nosso Parlamento multipartidário.

O assunto é que, muitos têm sido, na minha percepção que pode ser de outros compatriotas, os casos de clara ou mal contextualização na utilização das nossas línguas nacionais. Há muitos exemplos disso, mas há um que se registou recentemente no nosso Parlamento que acho que merece menção em que a nossa respeitada primeira-ministra ao tecer agradecimentos no fim da sessão de perguntas ao Governo utilizou algumas línguas nacionais perante ilustres deputados, convidados e outros governantes de diferentes origens ou proveniência diversa.

Está dito que não se tem nada contra a língua nacional nenhuma, mas é preciso que se saiba que são estas coisas que achamos que são pequenas que acabam criando um outro ambiente de relacionamento e de divisão no nosso seio, nas instituições, bem como nos nossos partidos políticos e noutros locais, que devem ser combatidas e eliminadas para a consolidação da unidade nacional.

Tendo um dirigente a qualquer nível razões para se sentir satisfeito por um encontro de trabalho ou comício popular por si dirigido, ter alcançado os objectivos que colocara na sua realização, não nos parece que os participantes que forem de outra proveniência (não da sua tribo ou etnia) poderão perceber que o responsável está de facto satisfeito enquanto ele optar por má contextualização, agradecê-los utilizando a sua língua materna ao invés da língua oficial. O discurso político pode ser feito em qualquer lugar

Aliás, o discurso político pode ser feito na reunião de um partido político, na igreja, escola, Assembleia da República, sessão do Governo e noutros fóruns, em defesa das línguas nacionais mas pode não ser adequado para quem o faz se não ter em conta o contexto, em termos de concretização de um objectivo essencial, como é a valorização global delas.

O nosso país, felizmente democrático e apostado no combate a vários males, com destaque para a pobreza absoluta, precisa de se reencontrar cada vez mais, linguisticamente. Para tal é necessário que ainda muito mais seja feito por todas as nossas línguas para que, por exemplo, o maconde, macua, sena, ndau, chuabo, changana, ronga, bitonga e jaua, em situações iguais e com o orgulho possam efectivamente desempenhar um papel importante para a existência da nossa unidade na diversidade linguística e cultural.

Todavia, precisamos de exemplos dos nossos dirigentes que façam com que consigamos manter um grau de valorização das nossas diferenças linguísticas, onde algumas línguas não valham que outras, principalmente quando queremos satisfazer os nossos propósitos. Gostaria que não nos faltassem governantes que dessem coerência e maturidade à vontade de valorização de todas elas, num Moçambique uno e indivisível, com a consciência de que a boa contextualização na utilização delas é importante, muito mais numa sociedade de diversidade etno-linguística como a nossa.


Fonte: Notícias (2006-12-14)

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