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quinta-feira, dezembro 28, 2006

“O estado da nação não é bom”, defende Salomão Moyana

Em entrevista no programa Debate Aberto da STV, o conceituado jornalista da praça, Salomão Moyana, esmiuçou o informe do Presidente da República à AR em que considerava o estado da nação de bom. Segundo Moyana, o estado da nação é bom e mau ao mesmo tempo. E esta última constatação teve para este jornalista mais substância que a outra.

Para melhor colocar os seus argumentos, Moyana começou por indicar o que o faz considerar ser bom, apontando os esforços que o Governo está a empreender para reverter a situação negativa que ainda prevalece no país

Para sustentar a posição contrária começou por dizer que existem problemas sérios que face a eles não se pode considerar de bom o estado da Nação. A título de exemplo, citou o crime, do HIV/SIDA, a pobreza, o desemprego de pessoas economicamente activas, o nível de burocracia no aparelho do estado para complicar as pessoas que querem fazer negócios como apresentando taxas ou níveis extremamente altos.

Moyana socorreu-se disso para desmentir o informe do presidente. “O estado da nação não é bom como o presidente quis dar a entender, apenas está bem encaminhado para vir a ficar bom”, sublinhou.

“No ano passado afirmou que a situação do país era boa, este ano também e as pessoas só se queixam. Afinal o que significa estar bom o estado da nação?”, questionou.

Para Moyana o Governo só pode no fim do seu mandato dizer que está a combater a pobreza se conseguir colocá-la abaixo dos 30%. Antes disso, afirma ser um discurso que qualquer um pode fazer e não uma acção concreta. “o presidente esteve a sublinhar no seu discurso que a pobreza tem fragilidades. A pobreza não tem fragilidades. Somos nós que as temos no combate à pobreza. Portanto não podemos acusá-la de ser fraca ou frágil. Nós é que temos que demonstrar o que poderemos fazer para ela reduzir. Isso é tarefa de pessoas e não da pobreza”, comentou.

Indo mais adiante na colocação do seu pensamento, Moyana recomendou que olhássemos para duas dimensões da pobreza no país: a institucional e a mental.

Quanto à primeira dimensão, explicou pelo facto de constatar que de uma forma geral a pobreza está institucionalizada nas próprias instituições do aparelho do estado, na medida em que este tem uma característica que não permite abertura para o combate à pobreza real. “Temos uma organização pública estatal concebida de modo a dificultar a vida do cidadão”, afirmou.

Para melhor clarear este juízo, apontou como exemplo os entraves que o cidadão tem para a aquisição de direito de uso e aproveitamento da terra. Segundo este jornalista, isto só é possível mediante a posse de uma viatura com combustível para transportar o funcionário da direcção da agricultura para o local onde se pretende adquirir o registo de terra. E tem que se pagar 300 contos sempre que for necessário a deslocação. “Sem carro, combustível e dinheiro, nada feito”, acrescentou Moyana.

Falando da dimensão mental da pobreza, Moyana disse que as pessoas em Moçambique são, de uma forma geral, mentalmente pobres. Isto porque não desenvolvem nada que contrarie o seu status quo. “As pessoas estão pobres e satisfeitas com a sua pobreza”, afirmou.

Segundo Moyana o presidente ao referir-se em relação ao combate à pobreza, ele expressava uma ideia boa. “Só que o presidente fala sozinho neste país porque não existe ainda o desdobramento do seu discurso para níveis inferiores de modo que as pessoas combatam a pobreza em termos práticos no dia a dia.

Um outro convidado do programa, Fernando Gonçalves, afirmou que existia ainda muita coisa por fazer para reduzir a pobreza de forma realística e não apenas estatisticamente e para o efeito era necessária uma série de acções, uma delas na função pública: o burocratismo deve ser eliminado.

Olívia Massango

Fonte: O País (2006-12-21)

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