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quarta-feira, dezembro 20, 2006

Ilhas Reunião procura origens moçambicanas

AS Ilhas Reunião, um "départment" francês do Oceano Índico, vê em Moçambique um importante ponto de partida para a reconstituição da sua história e cultura, que remontam da época do comércio negreiro na costa oriental de África, de que o nosso país faz parte. Anualmente, a 20 de Dezembro, os reunionenses comemoram o aniversário da abolição da escravatura neste canto do Índico, feito que data de 1848. Este ano, Moçambique é convidado especial nas celebrações, fazendo-se representar por um pequeno grupo de timbila de Inhambane (liderado pelo mestre Miguel Mangue) e um duo de mapiko, constituído pelo bailarino Atanásio Nhussi, da Companhia Nacional de Canto e Dança, e o músico João Seis.

A ideia das autoridades reunionesas (tem uma semi-autonomia em relação à França, de que é território ultramarino integrante) é mostrar ao seu povo que parte dele tem origem moçambicana, pois de Moçambique foram levados, principalmente no século XVIII, muitos homens e mulheres para o trabalho da escravidão nas ilhas do Índico (principalmente Reunião, Mascarenhas e Ilha da França, que é actualmente Maurícias). Para além dos percussionistas de timbila e mapiko, que se exibiram na quarta-feira, uma exposição de arte moçambicana está patente desde ontem. Esta mostra esteve a ser montada ontem sob direcção da directora do Museu Nacional de Arte, Julieta Massimbe, e da directora do Departamento dos Museus no Ministério da Educação e Cultura, Alda Costa.

A mostra, que estará patente até ao próximo ano, reúne trabalhos de escultura, gravura, cerâmica e pintura dos museus nacionais de Arte e de Etnologia, baseados respectivamente em Maputo e Nampula. Reinata Sadimba, Miguel Valingue e Matias Ntundo se afiguram como os mais representativos do país quando se fala das respectivas vertentes artísticas.
Uma outra exposição é inaugurada hoje num outro departamento do museu que a acolhe, e exibe ao público imagens do Planalto de Mueda do fotógrafo moçambicano José Cabral, mostra ainda que o Oceano Índico é um palco de aproximação entre povos e culturas que se devem aproximar uns aos outros.

Segundo Julieta Massimbe, os trabalhos expostos apresentam alguns traços comuns - decorre simultaneamente uma mostra de trabalhos etno-artísticos da ilha que comporta, entre mais, instrumentos musicais e utensílios domésticos tradicionais -, pelo que são um indicador de traços culturais comuns.

"Temos, por exemplo, instrumentos musicais como o xitende, que se assemelha a um instrumento utilizado na música tradicional daqui, um pilão que tem semelhanças com o nosso, etc. Isso pode ser indicador de traços culturais comuns e que o Oceano Índico é um ponto de convergência de civilizações", considerou.

Os eventos principais das celebrações do fim da escravatura na Reunião acontecem a partir de segunda-feira, em que actuarão os artistas moçambicanos de timbila e mapiko. Também actuará, na terça-feira, a cantora sul-africana Miriam Makeba, que desde o primeiro semestre deste ano se encontra a efectuar a sua última digressão, ao que se seguirão apenas esporádicas actuações na sua terra natal ou onde ela for convidada. Depois de ter cantado no Festival Internacional de Jazz da Cidade do Cabo, que teve lugar em Março, Mama Africa, como é carinhosamente tratada Miriam Makeba, esteve em vários países africanos, incluindo a Nigéria e a Tanzania.

ACORDOS DE COOPERAÇÃO

A representar o nosso país a nível oficial nas celebrações do fim do comércio de escravos nas ilhas do Índico estará o Vice-Ministro da Educação e Cultura, Luís Covane, que chegará a Saint-Denis no domingo. O vice-ministro Covane deverá assinar com as autoridades reunionesas importantes acordos de cooperação entre o nosso país e a ilha.Para além de actividades culturais, alguns encontros académicos terão lugar, entre eles debates científicos sobre o tráfico de escravos nesta e noutras regiões do país.A Ilha Reunião é uma colónia francesa do Oceano Índico que em 1946 recebeu autononia administrativa, transformando-se entretanto em província ultramarina daquele país europeu.

GIL FILIPE, em Saint-Denis

Fonte: Notícias (2006-12-15)

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