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domingo, maio 28, 2006

DIALOGANDO - Mancha de 1 de Junho!

Por MOUZINHO DE ALBUQUERQUE

As crianças de todo o mundo, à semelhança dos anos anteriores, voltam a celebrar o seu Dia Internacional, o 1 de Junho, na próxima semana. Como já alguém dizia, as crianças são o melhor que a vida tem, e, quanto a isso não nos resta margem de dúvidas. Pena é que bem sabemos que vivemos num país pobre, onde milhares de crianças não têm mínimas condições de sobrevivência.

Porém no nosso país, em particular na província de Nampula, parece que a data já vai sendo ou assumindo outra dimensão que merece reparos. É que, este ano alguém pode ter pensado mal que haveria que "premiar" as crianças das escolas de Nampula, neste caso a organização "Continuadores de Moçambique", obrigando-as a usar uniforme "especial", como forma de, alegadamente comemorarem o seu dia de forma muito especial.

Conselhos de algumas escolas rejeitaram esta iniciativa que quer queiramos, quer não, constitui uma mancha para a data, por considerarem inviável, tendo em conta a actual conjuntura económica e o cada vez mais reduzido poder de compra da maior parte dos pais e encarregados de educação, devido à pobreza.

Aliás, a maior parte dos pais e encarregados de educação com dificuldades financeiras, e que já foi avisada para adquirir o tal uniforme que está a ser vendido por aquela organização, mostra-se revoltada e indignada com esta opção, considerando-a de mais um acréscimo das despesas referentes a organização ou compra de lanche para os professores.

Eles questionam sobre a seriedade e capacidade de ponderação dos mentores da decisão, sabendo-se que mesmo para adquirir o uniforme normal escolar para os seus educandos não foi fácil e há outros que ainda não conseguiram por falta de dinheiro.

No seu entender, este é um caso que pode ser mau exemplo das estruturas como a "Continuadores de Moçambique", porque ,prejudica as crianças de famílias pobres, no sentido de que hão-de sentir contrariada a sua alegria pelo seu dia, ao ver as outras trajadas de uniforme "especial".

Na verdade, querendo-se salvaguardar sempre os interesses das crianças nas escolas, na celebração do seu dia, e neste contexto, temos ou é preciso que afirmemos a nossa posição de não concordância em relação a esta decisão, porque destempera-se também do pressuposto que a actual governação do país sugere ou defende no combate à pobreza absoluta.

Se a intenção é fazer com que todas as crianças comemorem de uma forma muito "especial" o seu dia neste ano, então que o uniforme seja gratuito. O que acontece é que parece ser hábito para algumas instituições ou organizações, cá do sítio, que quando chega uma data comemorativa, vendam capulanas ou tecidos a preços que consideram de simbólicos para alegadamente “colori-la”, mas que na realidade é um negócio combinado para se ganhar dividendos, que parece ser o caso vertente.

É por isso que com a companhia de alguns concidadãos de bom senso, reclamo o fim desse anacrónico esquema, porque há certamente muita gente nesta altura do ano, que atravessa graves dificuldades financeiras para poder proporcionar aos seus filhos alguma educação. Desaconselho a que seja ou não imposta às crianças, o uso do uniforme "especial", alusivo a uma data como esta, definido só e exclusivamente a uma entidade como a "Continuadores de Moçambique".

Trabalhar para a construção de um futuro melhor, passa também pela compreensão por parte das organizações do país, como a "Continuadores de Moçambique", de que a pobreza absoluta que também afecta a maior parte das crianças moçambicanas, é um grande constrangimento a ter sempre em conta nesse processo, e só não compreenderá quem for hipócrita.

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