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sexta-feira, abril 21, 2006

Política Externa de Moçambique não promove desenvolvimento

considera o docente Manuel de Araújo

(Maputo) A política externa de Moçambique não é sustentável. Não promove desenvolvimento nacional. Assentando numa lógica constante de pedir, ou seja “de mão estendida”, não induz crescimento económico. Prova-o, o facto de cada vez que se esgotada ou escasseia a ajuda externa, tudo pára e, consequentemente, deixa de haver continuidade no que vinha sendo desenvolvido.

Este cenário, entretanto, implica novo ciclo de peditório, considerou ontem Manuel de Araújo, docente do Instituto Superior das Relações Internacionais (ISRI), durante uma palestra subordinada ao tema: “Desafios da política externa para Moçambique”.

De acordo com o orador, que é também deputado da Assembleia da República (AR), pela razão que defendeu, a política externa moçambicana não está adequada à realidade e aos actuais desafios que se colocam ao país e que, segundo Manuel Araújo, passam pelo desenvolvimento de políticas que levem a uma cooperação externa essencialmente virada à transferência de conhecimentos ou investimentos que possam desenvolver, internamente, Moçambique de forma continuada e permanente.

Para o professor Araújo, “o governo (moçambicano) promove uma diplomacia de pobreza, ou seja, de estender a mão ao mundo, descurando a necessidade de promoção duma política que possibilite o crescimento da economia nacional”.

Ele afirmou ainda a propósito que a política externa que o governo segue, permite a interferência das instituições de Bretton Woods, nomeadamente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BIRD) que, no acto de concessão de ajudas, acabam impondo certas condições ao governo do dia, em benefício dos seus interesses.

“A nossa soberania está sem pernas para andar porque está amarrada às políticas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional”, disse.

Esta situação, segundo acrescenta, retira, por um lado, a liberdade de pensamento próprio e compromete, por outro, o alcance dos objectivos puramente nacionais.

Para o orador, “a pobreza não se elimina estendendo a mão ao mundo” em “atitude de pedinte”.

“O governo está amarrado ao passado e mesmo sabendo que algumas acções do passado prejudicam o presente, não tem a coragem de fazer as respectivas correcções”, frisou.

Manuel Araújo propõe que o país mude pelo que sugere: “Moçambique tem que ter um governo capaz de se libertar das orientações das entidades externas e ter a sua própria agenda, uma agenda que compreenda a preocupação dos moçambicanos”.

Sobre a política externa, a fonte referiu ainda que agrava a situação o facto de não existir material suficientemente divulgado sobre o que anda o Governo fazer pelo mundo fora e que ganhos arrecada. Por outras palavras: Araújo entende que o Governo anda pelo Mundo a fazer coisas de que não dá satisfações aos cidadãos do país, contribuindo isso ainda mais para o atraso dos moçambicanos em relação a cidadãos das outras nações.


Posição de embaixadores diluída

Noutro desenvolvimento, à margem do evento e falando ao «Canal» Manuel Araújo considerou diluída a acção da maioria dos representantes do país (embaixadores) nos diversos países em que Moçambique está representado. Ele conclui depois que isso se prova por não se fazer sentir nenhuma acção dos embaixadores. E chaga mesmo a propor que se extingam algumas embaixadas, por elas não produzirem resultados que se façam sentir em Moçambique.

Ultimamente quem faz a diplomacia é o próprio chefe do Estado; os embaixadores não fazem praticamente nada, acrescenta Manuel Araújo. Daí que proponha um corte radical nas despeas para que as verbas presentemente usadas sem proveito, passem a ser aplicadas em coisas mais úteis.

«O presidente da República é que faz a diplomacia. Não estamos a ver trabalho dos embaixadores, mas estes continuam a ganhar dinheiro que seria usado em outras coisas necessárias ao desenvolvimento do país”.

A título de exemplo, alegou não haver razões que fundamentem a manutenção da embaixada moçambicana em Cuba.

“Moçambique não tem nenhum interesse em Cuba e não há razões para a manutenção da Embaixada moçambicana naquele país”, sublinhou.

Acrescentou que as relações de solidariedade que ligavam os dois países já foram ultrapassadas e, neste momento, Moçambique possui uma outra agenda de caris meramente económico.

Referiu igualmente que Moçambique não precisa de embaixada na Indonésia nem na Swazilândia.

“As Embaixadas da Cuba e da Indonésia deviam ser recolocadas noutros sítios. A embaixada da Indonésia devia passar para Malásia e a de Cuba para o México, onde Moçambique tem fortes interesses económicos”, disse ao «Canal».

Advertiu ainda para a necessidade de se combater a diplomacia silenciosa em relação a casos que merecem a atenção do mundo.

Sobre a “diplomacia silenciosa” alegou não contribuir para a manutenção da paz nem para a consolidação da democracia.

Propõe que os estados se pautem por uma diplomacia activa em relação a situações como a do Zimbabwe, país que, segundo ele, caminha para o abismo, ante o silêncio de várias nações do mundo, incluindo do Estado moçambicano.

(Miguel Munguambe)


fonte: Canal de Mocambique (2006-04-21 06:58:00)

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