Local do assassinato de Mondlane volta à ribalta
(Maputo) Um dos assuntos que dominou a sessão de perguntas ao governo, foi a actuação da Policia da República de Moçambique (PRM), em alguns casos algo arbitrária. Os acontecimentos de Montepuez, em 2000, onde agentes da PRM vestiram a pele de facínoras em vez da que é peculiar nas corporações do género, e os mais recentes em Mocímboa da Praia, deram pano para mangas.
Na altura dos acontecimentos de Montepuez o actual ministro do Interior, José Pacheco, era o governador da província de Cabo Delgado. O seu nome foi sempre ligado pela Renamo ao “massacre” na Cadeia local onde cerca de uma centena de presos políticos morreu por “asfixia” dado estarem todos enclausurados numa cela com dimensões inadequadas para tanta gente.
Em Mocimboa da Praia, em 2005, nas eleições intercalares por morte do anterior Edil, houve de novo manifestações de protesto pela alegada “fraude”, como viria a argumentar a Renamo, e de novo a Polícia voltou a fazer sangue. Aqui já José Pacheco era o ministro do Interior.
Lembrado ontem disso tudo pela oposição parlamentar e questionado que medidas tem tomado para a inversão do cenário, Pacheco argumentou que aqueles “incidentes constituem acidentes de trabalho imprevistos”. Quanto ao comportamento “ilegal” – aqui referia-se particularmente a Mocimboa – o ministro afirmou que os agentes que tenham prevaricado serão tratados caso a caso. “Havendo matéria criminal são tratados judicialmente”.
Irrequieto, como sempre, e inquieto, uma vez mais, o deputado Luís Boavida citou o caso de Mocimboa da Praia, onde a PRM abriu fogo contra os manifestantes e matou cidadãos. “Os agentes não foram responsabilizados. Porque é que a policia não usa gás lacrimogéneo, jactos de água e outros meios de persuação?”.
Outro ponto colocado a Pacheco foi o tratamento diferenciado dispensado pela Polícia em relação aos chamados governos ou parlamentos “sombra”. A primeira ministra Luísa Diogo, dissera, antes de ontem, que no país existem condições, de acordo com a lei para a criação e existência desse tipo de organizações. Mas é conversa fiada na óptica de quem faz política confiante de que assim é de facto.
O deputado Luís Boavida é um dos que não vai nessas balelas e deu um exemplo flagrante da diferenciação que a Polícia faz entre os que são da Frelimo e os que não são. “Em Mocimboa da Praia abriram fogo contra os apoiantes da Renamo União Eleitoral que foram assistir à cerimónia de posse do governo «sombra», mas aqui nesta casa recebemos um «parlamento sombra» e não houve tiros. Aqui está um caso, senhora primeira ministra, não precisa de ir para longe”. Luísa Diogo optou pelo mutismo perante as evidências. E as inquietações do endiabrado Luís Boavida foram muito mais longe. O deputado da Perdiz, quer saber quem são os cúmplices da morte de Eduardo Mondlane e o que a policia tem estado a fazer, uma vez que ficou provado que o local “oficial” da morte – escritórios da Frelimo em Dar-Es-Salam – não é o que consta da história dos vencedores. “Já sabemos que Mondlane morreu noutro sítio, queremos saber o que a policia tem a dizer sobre isso”. Eduardo Mondlane, morreu em casa da secretária da sua mulher, Betty King (Ver Canal de Moçambique 1 e 2), em Osyter Bay, em Dar-es-Salam, onde, segundo a viúva Janett, Eduardo Mondlane “ia passar os momentos de lazer”. Este é um daqueles assuntos melindrosos, pelo qual apenas Joaquim Chissano e Janett Mondlane, ousaram em dar a cara, perante um Marcelino dos Santos atarantado e indelicado como já se tornou nele, infelizmente, marca registada.
(Luís Nhachote)
Fonte: Canal de Mocambique: 2006-04-21 07:04:00
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