Tentou censurar o antigo PR em público?
A ser verdade o que acabo de ler esta manhã, o caso Marcelino dos Santos merece reflexão séria dos órgãos de soberania deste País.
Diz o número 1 do Canal de Moçambique, novo jornal por fax produzido em Maputo que quando esta publicação estava a entrevistar o antigo Presidente da República Joaquim Chissano, Marcelino dos Santos interrompeu a entrevista e disse a Chissano “não responda”.
Isso aconteceu na Praça dos Heróis, portanto numa cerimónia pública e não privada e o assunto que estava em discussão entre o jornalista e o antigo estadista moçambicano é de interesse público.
O jornalista pretendia saber de Chissano se era verdade que Mondlane fora assassinado fora dos escritórios da Frelimo na capital tanzaniana e o antigo PR estava a confirmar que sim, o fundador da Frente de Libertação de Moçambique fora morto na residencial de Betty King e não nos escritórios.
Achando que isso ( a confirmação de Chissano) bradava os céus, Marcelino dos Santos em tom arrogante gritou: “não responda” e acto contínuo, ordenou um segurança a agir, de maneira a impedir a normal continuação do trabalho.
Sendo que Joaquim Chissano é antigo Presidente deste País, independentemente dos laços de camaradagem que unem os dois, este gesto é de uma gravidade tal que a ser verídico, exige a intervenção de quem de direito, para que chame à atenção do velho camarada para que páre com os seus maus exemplos que começam a enjoar as pessoas civilizadas.
Estamos recordados todos do mau exemplo que deu em plena cerimónia na casa de todos (a Ponta Vermelha), com o seu famoso gesto indigno e mau para a reconciliação nacional.
E agora, acabamos de saber que em público interrompeu o antigo Chefe de Estado de falar à comunicação social, num gesto de autêntica censura a Chissano e ao jornal.
Repito aqui o que escrevi na semana passada: os dirigentes devem dar exemplo na sua conduta pública, sobretudo porque há gerações jovens que devem aprender do seu exemplo. As querelas internas na Frelimo, sobretudo em véspera de Congresso, não têm nada que nos perturbar cá fora, nós que não pertencemos ao grande partidão.
Se abundam por lá, anarquistas e indisciplinados, arrogantes e arruaceiros, isso não tem que se reflectir em actos de Estado, sob pena de banalizá-los e ir dar razão aos que boicotam tais actos de Estado.
Por outro lado, Marcelino dos Santos não pode
continuar a dar exemplo de intocabilidade, sob pena de cair por terra a famosa música do Dr. Joaquim Madeira de que “ninguém está acima da Lei”.
Ora impedir uma entrevista ao antigo PR afigura-se uma violação da Lei, nomeadamente a Lei de Imprensa. Também afigura-se uma aguda falta de educação para quem o faz. E calha mal que seja Marcelino dos Santos, velho intelectual e libertador cujos pregaminhos de nacionalista reconheço e são inquestionáveis.
PS 1 e longo: No passado sábado, acabamos de ver mais uma lição de grandeza dos nossos presidentes. O antigo PR, recebendo os hóspedes também como anfitrião de Chaimite, perfilou durante largos minutos ao sol à espera da chegada do Presidente Armando Guebuza.
Com a humildade que lhe caracteriza, Joaquim Chissano cumprimentou Guebuza como seu chefe e acompanhou, no meio de outros sequazes, o actual PR nas cerimónias que se seguiram.
Na hora do almoço, foi bonito ver os dois líderes em animada cavaqueira, saboreando o ucanho em copo típico e tradicional, durante largos minutos.
E foi a pensar nisto que desde o oitavo Congresso eu venho escrevendo em público que bem precisávamos nós de termos um antigo presidente vivo, a cruzar connosco em cerimónias públicas ou privadas e a ser nosso património.
E depois da partida de Guebuza, em grande como PR, Chissano ficou alguns minutos em bate-papo com a gente e também partiu.
E devia ser assim de cima para baixo. Os cessantes conviverem com os que estão no activo e juntos e publicamente trocarem experiências. Infelizmente, há quem jura que não quer ver o seu antecessor nem morto. E a gente pergunta onde foram eles buscar tanto ódio, uma vez que os seus chefes não aparentam isso pelo menos publicamente?
PS2 e curto: Numa das raras vezes em que a Justiça actua de forma rápida, o juiz Dário Ossumane da 3ª Secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo interditou a produção e distribuição em Moçambique da Revista “Nova Mais” por razões que o leitor encontrará expostas e fundamentadas noutro espaço desta edição.
Para além de tudo o que na deliberação vem dito, a medida dá um claro sinal de que apesar da lentidão normal, a porca está a acordar nestas terras e os moçambicanos tendem a despertar ante a ameaça do regresso dos antigos patrões.
O sinal foi bom sobretudo para o nosso Gabinete de Informação, na pessoa do Director Ricardo Malate, que afirmou por mais de uma vez que para eles, a revista Mais e a revista Nova Mais eram coisas diferentes.
Pensar é muito difícil senhor Director substituto do Gabinfo. Não custava nada, antes de se pronunciar nestes termos, ouvir a gente da praça ligada ao assunto. Ai compreenderia certamente que o público, ficava defraudado com a “Nova Mais” que então foi autorizada e que o tribunal, em boa hora, decidiu banir, por enquanto.
Assim, não se encorajarão futuras burlas nem com “renovadas” nem com “novas ou velhas”...
Lourenço Jossias - ZAMBEZE - 10.02.2006
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