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domingo, julho 26, 2020

União Africana (UA) versus Democracia


União Africana (UA) versus Democracia
David Aloni
Quer-me parecer que o que há de mais violento e dramático, na vida de um ser humano, é pensar e ter que pensar, queira ou não; porque o simples facto de viver a isso o obriga, imperativamente. E toda a problemática se resume no simples facto de o homem ser um animal, não só  racional, como também político, como nos ensina o estagirita, Aristóteles.
Por  conseguinte, pensar e ter, necessariamente, que pensar é, também,   o drama do  articulista destas linhas  sobretudo quando, por  amor, que  presume sentir  pela sua pátria e pelo seu  Continente, o Continente Negro, é  obrigado  a ter que pensar  e reflectir  sobre a diversidade e multiplicidade de factos  e fenómenos  sociais, económicos e políticos que ocorrem  e acontecem  em África. Por isso, seria  caso e motivo  suficiente para  se vociferar  e gritar: Quem  me dera  não poder pensar, para não  sofrer  tanto! ... Só  que o meu  fado  é que  tenho  mesmo que pensar, por causa da minha  racionalidade, que me distingue dos  irracionais.
O Kenya de Nzee Jomo Kenyata  fez-me  pensar  muito, nos  últimos  meses. O Xenofobismo negro  contra  outros negros,  na África do Sul, perturbou-me  a mente e deixou-me  confuso  e desorientado. Seguiu-se  o Zimbabwe. Uma  autêntica  paranóia  de descalabros  políticos, sob a liderança déspota de um psicopata, que  se chama  Robert  Gabriel Mugabe, menino bonito de Angola e da  Namíbia; menino  bonito das lideranças políticas da África do Sul, de Moçambique, países esses que  morrem  de amores por aquele  presidente  negro-africano. Um  verdadeiro  fora-da-lei que não quer saber absolutamente nada da Democracia, porque não  lhe interessa,  da mesma maneira que  parece  não  interessar  mesmo à  maioria  esmagadora  dos actuais  Presidentes e Chefes  de Governo  com direito  a assento  nas Cimeiras da (UA).
Depois de uma  precipitada  palhaçada  e  trágico-cómica  tomada de posse, domingo à noite, 29/06/2008 do psicopata  presidente, “reeleito“(?) na  farsa  eleitoral  de 27 de Junho de 2008,  e sob  inspiração do espírito das trevas, na  manhã de 30 de Junho de 2008, segunda-feira, inaugurava-se a XI Cimeira da UA, na  famosa estância turística  egípcia  de Sharm El-Sheik com  uma agenda muito ambiciosa  e cujos objectivos, só  por  milagre  do Alto, é  que os Líderes  africanos  poderiam  cumprir  e realizar com êxito.
E como  em África  tudo é  possível, até o  inverosímil acontece. Lá estava (e porque não) o maníaco presidente  que acabava  de tomar posse a escassas  horas da abertura da Cimeira, no  Egipto. Com muita naturalidade (?), própria  de um cara-de-pau ocupou o assento reservado ao legítimo  presidente do Zimbabwe. Ninguém tugiu nem mugiu. Mugabe apresentou-se como um  herói  e “campeão  do  Estado de Direito ( Rule of  Law). Por isso, ninguém  o incomodou. Antes pelo contrário. É que, por estranho  e incrível que possa parecer, o que se está a passar no Zimbabwe  é  natural  e normal. É uma questão de soberania. Só que se está a esquecer ou ignorar, por  conveniência política, que a soberania  reside no povo”, e nunca nos líderes e dirigentes políticos.
Nos discursos de abertura (da praxe) da XI Cimeira da UA, nenhum presidente  ousou  condenar  o Zimbabwe,   a violência, a intolerância  e  a tirania  prevalecentes, naquele  país vizinho de Moçambique, também ninguém se atreveu a propor qualquer sanção contra o Zimbabwe. É tudo muito  estranho e misterioso, e não  admira. São todos uns bons comparsas, nunca podem ter a consciência tranquila. Por isso, e que se saiba, democracia é um projecto adiado para África. Portanto “For the time being” (para já) não interessa  aos actuais  líderes Africanos.
Estou  desiludido com a liderança africana da actualidade, mas  não  estou  desesperado, porque as jovens  gerações  saberão  como  dar-lhe a volta  e não tardará  muito  que isto aconteça. O Botswana e a Zâmbia já fazem a  diferença, na África Austral, e o Líder da Renamo trouxe  na sua bagagem, de regresso de Paris uma boa mensagem, que deveria constituir um TPC para todos os  moçambicanos, que nutrem algum sentimento genuíno e  sincero de solidariedade para com o povo irmão do Zimbabwe, o qual, hoje, mais do que nunca, necessita de libertação, porque  só  com  essa segunda libertação é que se lhe  poderá  restituir, não  só  a dignidade como seres humanos com direitos, deveres e obrigações sociais, morais, cívicos, políticos e patrióticos, como também  usufruir do  bem-estar  material e  espiritual  que o regime  ditatorial  de Harare, sob a liderança de Robert Mugabe, lhe tirou  e privou, deixando-o na miséria, sem precedentes  na história  do Zimbabwe.
Afonso Dhlakama propõe, sem   pestanejar nem gaguejar: uma das medidas para pôr  o  Ditador  e sanguinário  Robert Mugabe na linha  e restituir a dignidade  aos zimbabweanos seria  encerrar a Embaixada (Alto  Comissariado) do Zimbabwe,  em Maputo e correr com o respectivo Embaixador. Depois, interditar a passagem  de mercadorias e outros  itens do e  para Zimbabwe, pelos portos  moçambicanos,  nomeadamente, de   Maputo, Beira e Nacala.
O regime de Harare precisa de uma boa lição para deixar de brincar com o povo. Urge pôr-se Mugabe de joelhos!
Com as palmadinhas  nas costas, Mugabe até  se sente aconchegado e acarinhado  pela  solidariedade ideológica   dos camaradas, tanto da SADC, quanto da UA.
Esta é a liderança  que  os povos  africanos têm. Urge inverter-se a situação! Já chega de  vergonha para os africanos dignos deste nome.
Infelizmente, e para desgraça de África a fórmula política do Kenya já pegou moda !.....
Matola, Julho, de 2008
SAVANA – 22.08.2008

domingo, julho 05, 2020

Reflectindo sobre a guerra em Cabo Delgado

Apesar de sistema anti-democrático, Samora Machel era Comandante-em-chefe das FPLM e via-se isso. Como Comandante-em-chefe, Machel exigia disciplina do exército. Também sentia-se que havia comando de brigadas aos pelotões.
Não estou a dizer que por isso, tivemos um exército muito organizado. O exército teve problemas e fez atrocidades contra civis. Um dos problemas foi de ter um exército mal alimentado. Vivi em Netia, distrito de Monapo, onde eu era director da então escola secundária e centro internato de Natete, em pleno tempo de guerra. Duma ou doutra forma, eu tinha contactos ao nível dos seus comandos com o sétimo batalhão estacionado na MADEMO, o pelotão em Netia, e os estacionados em Namialo. Sei do que o exército governamental fez de errado e que devia ser uma grande licão no combate contra os insurgentes em Cabo Delgado. A obra de Christian Geffray " La cause des armes au Mozambique" também devia ser bem lida pelos comandos em Mocambique. Mas parece-me que os erros se repetem e da pior maneira, pior quando me parece que não temos comandante-em-chefe das FDS. Os vídeos e áudios que circulam nas redes sociais são quase incríveis. Tivessemos um comandante-em -chefe à altura de Samora Machel, já teria reagido, pelo menos para nos dar a entender que ele repudia aquilo que acontece em Cabo Delgado e mesmo no Centro do país.
Parece-me que estão pensando que se assim aconteceu sempre, na guerra de 16 anos, acontece desde 2012 e o mundo não se preocupa, porquê vai ser agora? Podem ter razão. Mas eu alerto que enquanto nós somos estáticos o mundo é dinâmico. Uma outra questão é que na guerra de 16 anos houve essa competicão de quem mata mais entre o exército governamental e a Renamo e assim nos bombardeam na Assembleia da República. Mas enquanto na altura era difícil provar, por exemplo que o exército governamental executou duas pessoas em Natete, em frente de criancas, alunos das duas escolas, missionários, professores que foram obrigados a assistir, hoje tudo isso é filmado e até pelos executores sem nocão da consequência. Eles mesmos publicam nas redes sociais.
Nota: 1) Em boa hora, em 2017, questionamos sobre aqueles ataques em Mocimboa da Praia e a accão do SISE. Se quem perguntava fosse visto como patrão, e, mais digo, se tivessemos um comandante-em-chefe, ter-se-ia mostrado a dificuldade de penetrar em Mocambique apesar de toda porosidade. Infelizmente não foi isso.
2) Não podemos continuar com exército que que recorre à carne de jiboia para ter proteinas. Tudo o que é gordura é para quem não se sacrifica em Maputo ou capitais provinciais. Só para gozar os gordos falam de subsídio de razões duvidosas.
3) Não estou aqui para dar glória aos exército colonial, mas a verdade tem que ser dita. Pelo que vi, apesar de pequeno, o exército colonial era organizado, regrado, bem alimentado. Acho que se fosse para fazer massacre como em Wirriamu, só era algo bem planificado. Eu como miúdo, para além dos camiões a transportar alcodão, os carros que eu mais ouvia eram de militares saindo do lado de Namapa para a belíssima praia de Simuco. Havia vezes que esses militares desviavam para a escola de Simuria para "fins de assistência de saúde". Ponho entre parenteses porque o interesse podia ser outro. Uma das vezes levaram o meu tio Ângelo que tinha uma doenca que em emackua se chama epupa. Duvidamos se alguma vez o devolveriam, mas meses depois e quando curado,o trouxeram.